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Além do café, o preço do ovo, um dos principais alimentos no prato das famílias no país, começou o ano apresentando uma alta significativa em todo o Brasil, impactando tanto os consumidores quanto os produtores. Em fevereiro, o valor da proteína registrou um crescimento de 21,60%, conforme o Índice de Preço ao Produtor Amplo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) esclareceu, em nota, que a alta é uma "situação sazonal", comum ao período pré e durante a quaresma — quando católicos praticam o jejum e substituem o consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos.
Segundo a entidade, os custos de produção também acumularam alta nos últimos oito meses, com elevação de 30% no preço do milho e de mais de 100% nos custos de insumos de embalagens. Ao mesmo tempo, os fatores climáticos, com as temperaturas em níveis históricos, têm impactado diretamente na produtividade das aves, com reflexos na oferta de produtos.
Sobre a normalização dos preços, a entidade projeta para o fim da quaresma — metade de abril —, quando será restabelecido os patamares de consumo de outras proteínas.
Clima influenciou alta
Ainda em janeiro, o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, em entrevista ao programa Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha, citou que o setor brasileiro tem sido procurado pelos Estados Unidos para exportação de ovos. O país norte-americano vive uma crise no fornecimento da proteína em razão de casos de influenza aviária.
Como citado pela ABPA, um dos fatores determinantes para a elevação dos preços do ovo é o impacto do clima, pois períodos de calor intenso podem afetar a produtividade das aves, reduzindo a oferta de ovos no mercado. O mesmo fator é apontado pela Cooperativa de Agricultores e Agroindústrias Familiares de Caxias do Sul (Caaf).
— As galinhas são mantidas em gaiolas, por vezes com quatro, cinco aves juntas. Com essa temperatura elevada, não existe estrutura que consiga manter um clima razoável para que essa ave não sofra com essa anomalia térmica que tem dentro do aviário. O corpo estaciona a sua produção e se foca em se manter vivo. Se cada galinha reduz em torno de 10% a sua produção, no contexto todo, acaba impactando no mercado — diz Marcos Regelin, gerente administrativo da cooperativa.
Regelin também cita as questões da exportação, devido à crise do ovo nos Estados Unidos. Outro fator que provoca a alta é o aumento do consumo à nível mundial, segundo o dirigente.
Custos dos insumos
Desde 1987, Alexandre Fadanelli está no ramo da produção de ovos. Na avaliação do produtor, são muitos os fatores que contribuem para a elevação do valor da proteína, entre eles o custo de produção.
— Tem aumentado o custo do milho e da soja — diz o produtor, que possui uma granja em São Marcos da Linha Feijó, no interior de Caxias do Sul.
O aumento dos insumos – principalmente da ração – também foi o principal motivo que fez com que Gabriel Agostini desativasse a granja que tinha em Antônio Prado, há cerca de três anos. Uma decisão difícil, segundo ele, diante de um negócio familiar, consolidado no ramo e conhecido em Caxias, que já estava na terceira geração.
— Em função da pandemia, foram mais ou menos uns dois anos trabalhando abaixo do custo, tentando administrar. Mas propriedades pequenas acabaram sofrendo bastante nesse período. Então, hoje estou focando apenas na distribuição do produto — lembra.
Agostini, que trabalhou com a produção da proteína, reforça que, além dos custos dos insumos, o principal motivo da alta de preços dos ovos se deve à questão das exportações.
— O que organiza o preço é oferta e demanda. O produto acabou ficando um pouco mais escasso na região. E a procura nos países, principalmente nos Estados Unidos, foi muito grande — afirma.