Embora não tenha número de empresas afetadas ou uma dimensão mais exata das consequências, o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs) confirma que já há reflexos em setores e linhas de produção diante do afastamento de funcionários pela covid-19. O cenário atual é tido como ainda "controlável", mas a entidade teme por uma situação mais dura nas próximas semanas, caso o contágio mantenha níveis elevados.
— Estamos preocupados porque vemos um aumento de casos dia a dia. Isso gera reflexo nas linhas de produção. A gente tem empresas com um número de pessoas considerável afastadas, com 12, 14, 18... Impacta também nas perspectivas que se tinha, porque estava se desenhando um início de ano bem positivo. Temos a preocupação, por óbvio, com a saúde dos trabalhadores, mas com as questões econômicas também — avalia a diretora-executiva do Simecs, Daiane Catuzzo.
De acordo com Daiane, boa parte das empresas de Caxias tem relatado afastamentos nos últimos dias ao Simecs — a entidade representa 3,3 mil negócios de pequeno, médio e grande porte em 17 municípios da região. O número de afetados varia conforme o tamanho do empreendimento. Também não há um perfil comum entre os atingidos.
— Hoje, eu diria que a maioria das empresas está em uma situação "controlável", mas qualquer mudança de cenário terá um impacto direto. Sabemos que tem o remanejamento dentro da própria indústria. Muda-se o funcionário de um setor para o outro. Impacta, mas não a ponto de ter uma parada. Pode haver uma diminuição do ritmo de produção, ajustes, isso sim. Mas paradas ainda não — analisa a representante da entidade.
A orientação tem sido para que, ao qualquer sinal de sintoma gripal, que a empresa faça o procedimento de testagem do funcionário. O modelo de custeio do teste da covid-19 varia conforme cada empresa, segundo a diretora-executiva da entidade.
— Muitas testaram seus funcionários antes de eles retornarem (das férias) às fábricas. Claro que nem todas fizeram isso. A política (de testagem) vai de acordo com cada empresa. Temos locais que têm planos de saúde, parcerias, outras que têm médicos internamente e outras ainda que encaminham para o sistema de saúde — comenta Daiane.
O Simecs, juntamente com representante de outros setores, esteve reunido na última terça-feira com o prefeito Adiló Didomenico em encontro do Gabinete de Crise da prefeitura. A expectativa de todas as entidades ouvidas pela reportagem é por uma nova avaliação do cenário de contaminação na cidade e, talvez, por novas medidas de combate à doença ainda nesta semana.
— Não podemos retomar o fechamento da economia. Isto seria altamente prejudicial para todos. Por isso, a necessidade de cada um em se comprometer com a prevenção — assinalou o prefeito, pedindo uma união de esforços para cumprimento das medidas sanitárias.
Em alerta para o cenário dos próximos dias
O comércio e o setor de supermercados de Caxias do Sul não registram fechamentos de unidades por falta de funcionários em decorrência do aumento de casos de covid-19. É o que apontam os presidentes do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Caxias do Sul (Sindigêneros) e do Sindilojas.
Ambas as entidades afirmam que proprietários de lojas e mercados têm relatado ocorrência de funcionários afastados com sintomas ou confirmação da doença, mas que os casos não têm impactado fortemente as operações. Tanto o Sindigêneros como o Sindilojas ainda não possuem levantamento atual sobre afastamentos pela infecção.
— Desde segunda-feira, tivemos bastante pessoas fazendo testes, alguns positivos, outros negativos. Muita gente ainda esperando o resultado. Mas ainda estamos mantendo o funcionamento (dos supermercados). Estamos esperando até o dia 15, quando dizem que vai dar o pico. Segunda e terça-feira (dias 17 e 18) vão ser cruciais para sabermos se alguma loja vai fechar ou não — prospecta o presidente do Sindigêneros, Eduardo Luis Slomp.
— Nós, do comércio, vemos a situação atual com bastante cuidado e receio, já que fomos os mais afetados no início da pandemia. Sabemos que tem funcionários afastados, mas ainda não temos casos de comércio fechado — aponta Idalice Teresinha Manchini, presidente do Sindilojas.
Slomp comenta que a orientação é para que os supermercados testem os funcionários de maneira particular para agilizar a confirmação ou não da doença.
— Estamos pagando teste particular para continuar com as lojas abertas. Se tem sintomas, já vai fazer o teste e sabe se tem ou não — comenta.
Já Idalice diz que foi reforçado aos empresários que redobrem os cuidados sanitários e cobrem a exigência do uso de máscara, tanto por funcionários, como por clientes.
— É imprescindível o uso da máscara, o afastamento entre as pessoas e o uso de álcool gel. Não podemos correr o risco de fecharmos novamente. Então, esse é o apelo para os funcionários e para os empresários — comenta.
O que fazer se o funcionário estiver com covid
A procuradora Priscila Dibi Schvarcz, do Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS) recomenda aos empregadores que respeitem o período de quarente de 14 dias, uma vez que duas portarias do Ministério da Saúde, de junho 2020, prevendo esse intervalo de recuperação, ainda estão em vigor.
— Não podemos esquecer que reduzir o tempo de isolamento pode repercutir em afastamentos posteriores de outros trabalhadores contaminados — adverte Priscila.
Advogado trabalhista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Gilberto Stürmer afirma que, do ponto de vista trabalhista, nada muda com o anúncio do Ministério da Saúde — conforme o docente, o tempo de afastamento seguirá sendo determinado pelo médico.
No caso da covid-19, muitas empresas dispensam a apresentação de atestado médico para o afastamento, a fim de evitar a circulação do indivíduo e contaminação de terceiros. De acordo com o advogado, é questão de bom-senso.