CORREÇÃO: ao longo do último ano, as caixas de ovos vendidas por Edemar Pedroni aumentaram de R$ 100 para R$ 140, e não de R$ 40 para R$ 140 como publicamos inicialmente. A informação foi corrigida e permaneceu publicada das 22h10min de 18/05/21 até as 13h33min de 19/05/21.
O preço do ovo de galinha, um dos principais ingredientes no prato das famílias no país, vem sofrendo elevação nos últimos meses no Rio Grande do Sul. De janeiro a abril deste ano, o valor médio do ovo branco na granja subiu 36,41%, segundo dados da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). O presidente da entidade, José Eduardo dos Santos, destaca que essa elevação no preço do ovo ocorre em razão do aumento de custos de produção enfrentada pelo setor. Santos cita o avanço nos preços da ração como um dos principais causadores desse movimento, que acaba impactando no bolso do consumidor final.
— Acusamos, agora em março, no preço do milho, por exemplo, aumento de quase 100%. Sendo que o milho é 70% da ração das aves. No farelo de soja, que compõem cerca de 25% da ração, acusamos aumento também, na ordem de 70%, 75% — explica o presidente da Asgav.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, destaca que o repasse do reajuste no preço do ovo é menor no varejo em razão de diversos fatores, como redução na margem de lucro e oferecimento de embalagens maiores e mais econômicas. Segundo o dirigente, o aumento no consumo do produto também permite preços diferenciados.
— Na bandeja, que o supermercado utiliza para promoção, praticamente se abriu mão de margem de lucro e é um produto que fica meio que no custo para atrair cliente — explica Longo.
Na granja de Edemar Pedroni, que fica em São Marcos da Linha Feijó, interior de Caxias do Sul, os custos vem sendo cortados para evitar um repasse de preço muito alto aos clientes. O investimento em equipamentos de automatização feito há pouco mais de um ano garantiu que a empresa familiar acompanhasse um movimento de ampliação na produção efetuado por granjas da região. Desde 2020, porém, o valor investido, associado ao aumento no preço dos insumos têm pesado para o produtor.
— Estamos vivendo momentos de incerteza. A alimentação das galinhas, que inclui soja e milho, assim como outros insumos subiram bastante ao longo do último ano. Até mesmo as nossa embalagem de ovos, tanto as de plástico como as de papel, subiram. Desde a embalagem de colocar o ovo dentro até a sacola para o cliente, aí a conta não fecha no final do mês — comenta Pedroni.
De acordo com o granjeiro, o aumento do dólar tem influenciado diretamente no aumento dos produtos que utiliza, sem contar a quebra na produção de milho ocasionada pela seca em 2020, e por uma peste no início deste ano, algo que fez aumentar ainda mais o preço de um dos insumos mais predominantes na alimentação das 15 mil galinhas poedeiras. A propriedade fornece 26 caixas de ovos — com 32 dúzias cada uma — por dia, às confeitarias, padarias, restaurantes, supermercados, feiras e, até mesmo, ao Banco de Alimentos, em Caxias do Sul. As caixas que há cerca de um ano eram vendidas a R$ 100, hoje saem por R$ 140.
— Como tem produção de sobra, não conseguimos repassar ainda o preço como deveríamos, então para não ficarmos no vermelho estamos diminuindo um pouco a criação, vendendo as galinhas mais velhas e trocando fornecedores para reduzir gastos — relata Pedroni.
Reflexo no comércio de alimentos
É da granja de Edemar Pedroni que saem as cerca de 200 dúzias de ovos consumidas, semanalmente, na produção de doces e salgados da Confeitaria Flórida, no bairro São Pelegrino. Evandro Pessari, sócio proprietário do estabelecimento, conta com a parceria do fornecedor há sete anos. Segundo ele, a negociação direta com o produtor reduz o custo e garante o padrão de qualidade. Pessari conta que, embora as oscilações de preço sempre tenham sido comuns na negociação, o aumento constante tem atrapalhado a venda dos doces que produz.
— Já chegamos a pagar cerca de R$ 3, a dúzia, e agora este valor está em R$ 4. Com certeza é algo que faz diferença no custo final dos produtos, especialmente as tortas — afirma o empresário.
De acordo com Pessari, a maior parte dos ovos consumidos semanalmente é destinada à produção do pão de ló e do recheio das tortas, que são comercializadas inteiras por encomenda ou, em fatias, no balcão. O produto representa 60% do faturamento da confeitaria.
— Também acabamos segurando o preço, porque as pessoas estão consumindo menos, não tem mais tantas festas como antes. Com a pandemia baixamos de 60 para 40 tortas vendidas, aproximadamente, por dia — relata Pessari.
O proprietário destaca ainda que o aumento do preço dos ovos é significativo, mas acaba sendo apenas mais um produto a figurar na lista de altas dos últimos tempos.
— Se for observar, o ovo não chega a ser o principal vilão, porque teve um aumento menor do que outros produtos como o óleo de soja, o gás de cozinha, os derivados do leite... É tanta coisa que subiu que, se observarmos as planilhas de 2013 e compararmos com as de agora, parece outro planeta — conclui.
Preço elevado na hora de escolher a proteína
O ovo não é a única proteína que vem registrando elevação nos preços últimos meses. O valor da carne bovina também vem chamando a atenção de consumidores na hora de ir as compras.
O levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostra que os 10 cortes analisados apresentaram alta no Estado, em abril, na comparação com janeiro deste ano.
Na média de todos os cortes, o aumento foi de 10,66% no período. Costela, com 20,51% de acréscimo, lidera a pesquisa entre os cortes, seguida por vazio e maminha. A pesquisa usa o valor médio encontrado em açougues, casas de carnes e supermercados do Estado.