A companheira fiel dos gaúchos no inverno está mais pequena neste ano. O tamanho da bergamota está bem abaixo da média, e a culpa é da estiagem que afetou o Estado. As plantas também estão mais cheias, resultado da falta de raleio — retirada do excesso de carga de cada pé de bergamota para garantir maior qualidade ao produto. Muitos produtores deixaram de aplicar a técnica em dezembro por causa da seca e agora se depararam com bergamoteiras com alta carga, porém, com frutos pequenos.
— Como imaginei que a casca ia rachar quando chovesse, tirei menos frutas da parte de cima. Então, acabou que está tendo bastante — conta Josué Perini, produtor de bergamotas em Loreto, interior de Caxias do Sul.
O agricultor tem dois hectares de bergamota e espera colher entre 50 mil e 55 mil quilos nesta safra. Perini, que planta variedade mais tardia, deve começar a colheita somente em outubro. Ele também mantém 10 hectares de laranja na propriedade familiar.
— Deixo até aguentar no pé, porque consigo preço melhor. Mas com a qualidade mais baixa este ano, não vou conseguir um preço muito bom — lamenta.
Se por um lado a bergamota teve uma redução de cerca de 30% no tamanho, por outro, ela está mais doce e com coloração mais vibrante, segundo o engenheiro agrônomo e extensionista rural do escritório regional da Emater, Enio Ângelo Todeschini. A estimativa, conforme ele, é de uma colheita de 10 mil quilos por hectare, semelhante à safra do ano passado — Caxias tem 100 hectares. No entanto, nem toda a produção será aproveitada, justamente pelo calibre menor.
— As bergamotas pequenas poderiam ser aproveitadas, mas nem sempre compensa. Às vezes, o mercado não absorve. É diferente da laranja, por exemplo, que dá para fazer suco (mesmo a pequena). A bergamota tem a casca mais frouxa e nem sempre dá para espremer — diz.
Forte da safra até agosto
Os maiores produtores de bergamota do Estado estão no Vale do Caí e no Vale do Rio das Antas. A safra começou em junho e segue até agosto, porém, é possível iniciar a colheita antes e terminar depois. Isso depende da variedade. Em alguns casos, a safra começa em março e se estende até outubro. O preço do quilo da bergamota pago ao produtor varia entre R$ 0,80 a R$ 1, de acordo com Enio. Para o consumidor, o quilo está na casa dos R$ 3.
Colheita mais atrasada em Vila Cristina
Com cinco meses de seca, Samuel Pezzi pensou que a produção dos três hectares de bergamota em Vila Cristina estaria totalmente perdida. Mas, felizmente, não. A situação melhorou e ele deve fechar o ano com uma colheita entre 80 mil e 90 mil quilos, similar à do ano passado.
— 2018 foi bom, foram 120 mil quilos. Ano passado já ficou na casa dos 90 mil. E este ano era para ser dos melhores, mas teve a seca — conta.
Porém, a qualidade foi afetada. As variedades Caí e Ponkan estão menores — redução de cerca de 30% no tamanho — e mais atrasadas. A colheita da Ponkan, por exemplo, que deveria estar terminando agora, deve levar mais 45 dias.
— Mas mesmo pequenas, ainda é a que sai melhor — destaca Pezzi, se referindo à Ponkan, cujo tamanho costuma ser maior do que as outras variedades.
A produção de citros, que conta ainda com um hectare de laranja, representa 50% do faturamento da família — Pezzi, os pais e a esposa plantam também outras culturas, como uva e pêssego. Eles abastecem a Cooperativa de Agricultores e Agroindústrias Familiares de Caxias do Sul (Caaf) e as feiras de Caxias.
Com a interrupção das aulas presenciais nas redes municipal e estadual, a maior parte da produção está sendo vendida na Feira do Agricultor e no Ponto de Safra. Antes, era para a Caaf, que fornece os alimentos para as escolas.
— Apesar da crise, estamos vendendo bem. O pessoal está consumindo bastante – finaliza Pezzi.
SAIBA MAIS
> Caxias do Sul tem 100 hectares de pomares de bergamota. São 150 produtores
> A Serra tem 1.080 hectares de bergamota e mais de 1 mil de laranja.
> Os maiores produtores de bergamota estão no Vale do Rio das Antes e no Vale do Rio Caí.
> É possível colher bergamota de março a outubro, mas o forte da safra é de junho a agosto.
> O preço do quilo varia de R$ 0,80 a R$ 1 (valor pago ao agricultor). Para o consumidor, custa cerca de R$ 3 o quilo.
VARIEDADES DE BERGAMOTA
Caí: Também conhecida como mexerica, é uma fruta cítrica de cor alaranjada e sabor adocicado. A árvore é de porte mediano, com espinhos nos galhos, como forma de proteção, com flores brancas e aromáticas, semelhantes à laranjeira. É a mais conhecida e apreciada das bergamotas da Serra Gaúcha. Maturação em maio/junho.
Satsuma Okitsu: de origem japonesa, tem sido incentivada por instituições de pesquisas agrícolas em diversas partes do Brasil. A principal vantagem da fruta é sua precocidade, o que proporciona a colheita na entressafra. O plantio é recomendado principalmente para o pequeno agricultor, a fim de suprir o consumo no início do ano, quando não há outras variedades disponíveis. Maturação em março-abril.
Ponkan: acredita-se que essa fruta surgiu no nordeste da Índia ou no sudoeste da China, chegando ao Ocidente por volta de 1.800. Vem da espécie citrus reticulata, com aroma e sabor próprios. Tem gosto mais doce em comparação com as outras tangerinas. Maturação em maio/junho.
Montenegrina: muito produtiva e rústica. Fruto achatado, doce, casca amarelo-ouro, fina e solta. Maturação em agosto-outubro.