O valor mínimo do preço da uva finalmente passou a barreira do R$ 1. O Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou ontem que o quilo da uva industrial na safra 2018/2019 está fixado em R$ 1,03. A definição ainda não foi publicada pelo Diário Oficial da União, mas é considerada como certa pelo presidente da Comissão Interestadual da Uva e vice-presidente do Ibravin, Márcio Ferrari.
— O CMN nunca voltou atrás de uma decisão — ressalta Ferrari.
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O novo preço passa a ser aplicado a partir do dia 1º de janeiro de 2019 e representa aumento de 11,9% (ou R$ 0,11) em relação à safra passada, quando era de R$ 0,92. A proposta das vinícolas era manter o mesmo valor, e os produtores pediam pelo menos R$ 1,05. Mesmo assim, o preço agradou às entidades e produtores do setor.
— Estamos satisfeitos — comemora Ferrari.
Segundo ele, finalmente o governo percebeu a importância que o agricultor tem no desenvolvimento da economia e está disposto a valorizar.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Cedenir Postal, acrescenta:
— Diante de todas as dificuldades enfrentadas nas negociações, foi uma vitória.
Sem garantias
O reajuste ainda não é o ideal, já que nas últimas duas safras o governo manteve os R$ 0,92. Nesse período, os custos de produção aumentaram muito mais do que a inflação.
— O valor de R$ 1,03 é o que havíamos solicitado para a safra de 2017. Todo o nosso trabalho está defasado, mas, mesmo assim, o preço definido é muito melhor do que o valor que a indústria estava propondo, que era de R$ 0,92 — declara Ferrari.
Agora, a torcida é para que as vinícolas cumpram o que foi acordado. Na safra passada, segundo Ferrari, algumas variedades com graduação abaixo dos 15 graus Babo (índice de açúcar) não receberam o mínimo de R$ 0,92.
Não há garantias do governo de que o preço estabelecido seja pago aos produtores. Isso porque não há mais linhas de crédito subsidiadas que favoreçam as vinícolas que cumprem o acordo.
“Debate deve ser ampliado”
O diretor-executivo da Federação das Cooperativas Vinícolas do RS (Fecovinho), Hélio Marchioro, defende que, além de definir o preço mínimo, seja ampliado o debate dentro do setor para produzir com mais qualidade.
— É preciso que haja um pacto entre os segmentos vitivinícolas para buscar estratégias de mercado e qualificar os produtos. Temos que transformar ações em perspectivas — observa.
A previsão da próxima safra é de colher cerca de 550 mil toneladas, 20% a menos do que a de 2018, quando foram colhidas 663 mil toneladas. A quebra se deve ao prejuízo deixado pela chuva de granizo que atingiu 14 municípios da Serra no final de outubro.
Números da safra 2018
* Na última safra foram colhidos 663 milhões de quilos de uvas para processamento no RS
* 50% foram destinadas à elaboração de suco
* Foram colhidas 113 variedades da fruta em 129 municípios gaúchos
* A maior produtor foi Flores da Cunha, com 100 milhões de quilos
* Bento Gonçalves foi o que teve maior volume de vinificação, 214 milhões de quilos
* 15 mil famílias atuam no setor da uva e do vinho no RS. Dessas, 11,5 mil estão localizadas na Serra Gaúcha.
* Na safra de 2018 foram produzidos 257,09 milhões de litros de vinhos e espumantes e 160,67 milhões de litros de suco e outros derivados da uva.
Fontes: Ibravin e Embrapa