As videiras dos parreirais da Serra gaúcha estão esbanjando cor e vigor. Se depender do atual estágio, a safra da uva 2018/19 será uma das melhores dos últimos anos. Tanto em qualidade, como em quantidade. O inverno foi muito favorável, com o frio acontecendo na hora certa.
— A brotação está uniforme e vigorosa – garante o engenheiro agrônomo da Emater Regional de Caxias do Sul Ênio Todeschini.
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O técnico explica que o ciclo das parreiras atrasou, em média, 30 dias. E isso, segundo ele, é altamente benéfico, porque as plantas prolongaram o tempo de dormência e “acordaram mais fortes”.
Nos parreirais do agricultor Mário Biondo, 54 anos, na localidade de São Gotardo, interior de Caxias do Sul, o verde intenso das videiras reveste as encostas dos morros. Andando por entre as fileiras é possível perceber que estão carregadas e cachos com pequenos grãos de uva.
— Tá sendo uma safra louca de boa — comemora o produtor.
E acrescenta:
— O frio chegou na hora certa. Agora é torcer para que não chegue o granizo.
O aparente excesso de chuvas na estação e a ausência de sol não prejudicaram a sanidade dos vinhais, garante Todeschini.
A produção, segundo ele, deve ficar acima da última safra, quando foram colhidos 663,2 milhões de quilos (663 mil toneladas) de uvas destinados ao processamento de produtos vinícolas. O Rio Grande do Sul responde por 90% da produção nacional.
Custos altos
Os produtores estão faceiros com a expectativa de uma boa safra. Mas angustiados em relação ao preço mínimo da uva e pelos altos custos da produção.
— Vendemos por centavos e compramos em dólar — aponta Mário Biondo.
Em sua propriedade, ele cultiva 3,5 hectares de parreiras das mais diversas variedades e espera colher 80 toneladas da fruta. Na safra de 2018, o governo manteve o preço mínimo da uva em R$ 0,92 – o mesmo da safra de 2017. Este ano, os insumos (maior parte importada) subiram entre 20% e 25%, segundo a Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (ANDAV).
Biondo trabalha com parreirais há mais de 40 anos. É o carro-chefe de sua produção. Também cultiva caqui e ameixa, mas é a uva quem garante a sustentabilidade da família. Ele reclama do alto custo da matéria-prima utilizada nas parreiras e da mão-de-obra. Na última safra, comercializou a fruta para as vinícolas ao preço médio de R$ 1.
— Temos alta mortalidade de muitas videiras. Isso exige pesquisa e investimento em novas mudas, o que aumenta o custo da produção. Uma pena o valor mínimo ser tão baixo. Isso desestimula a agricultura familiar.
Previsão de temporais e granizo
O temor dos agricultores também está na previsão dos meteorologistas. A chuva de granizo que, em novembro do ano passado, destruiu sete mil toneladas de uva em propriedades da Serra ainda esta viva na lembrança dos produtores. A possibilidade de isso acontecer novamente não está descartada. Pelo contrário.
A meteorologista do Climatempo Graziella Gonçalves prevê chuvas acima da média a partir da segunda quinzena de novembro. E elas devem chegar acompanhadas de temporais e granizo.
— Os produtores precisam ficar atentos, pois o volume de chuva será potencializado em novembro — destaca.
Na primeira quinzena de novembro deve prevalecer o sol e temperaturas amenas. Segundo Graziella, o fenômeno el ninõ está mais fraco que o ano passado. Mas isso não significa que os riscos de fortes chuvas e ventos também sejam reduzidos.
— Com o aumento da temperatura, também cresce a chance de fenômenos naturais.