Aos 58 anos, Juarez Mazzocchi já ajudou a construir o sonho de pelo menos 800 famílias caxienses. Formado em engenharia civil, ingressou no ramo da construção civil em 1983, quando o Brasil vivia "a mãe de todas as crises" e era visto pelo sistema financeiro internacional como o 'próximo a quebrar'. Juntamente com dois colegas de faculdade começou a prestar serviços de engenharia para empresas de Caxias. A partir daí, galgou uma fatia cada vez maior, principalmente no mercado de alto padrão.
Há 30 anos dirige uma das mais bem estruturadas incorporadoras de Caxias do Sul, a Exacta Engenharia. Juntamente com os sócios Sonia Mazzocchi e Alceu Ambrósio e Vanessa Camargo, assinou um dos mais imponentes empreendimentos comerciais do centro de Caxias do Sul, o City Life.
Nesta entrevista, Mazzocchi fala dos desafios do setor e da coragem de lançar dois grandes empreendimentos, que somam R$ 85 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV), em um momento conturbado da economia brasileira. A expectativa é de que, em seis meses, pelo menos 50% dos imóveis estejam vendidos. Confira:
Pioneiro: De onde surgiu a ideia de investir no negócio da construção civil?
Juarez Mazzocchi: Me formei em engenharia civil em 1982 e, no ano seguinte, já prestava serviços para empresas de Caxias. Em 1987, juntamente com o colega de faculdade, Alceu Ambrósio, e a cunhada, Sonia Mazzocchi, fundamos a Exacta. Naquela época estava em alta a administração e construção de condomínios a preço de custo. Nos capacitamos no assunto e administramos seis condomínios a preço de custo. Mas, no primeiro ano de empresa, já começamos a construir nosso primeiro prédio (pequeno) em regime de incorporação imobiliária. Trabalhávamos paralelamente nas duas áreas. Em 30 anos construímos 55 prédios (cerca de 200 mil metros quadrados), que totalizam mais de 800 unidades entregues. Nosso carro chefe foi o Centro Comercial City Life, o maior empreendimento da construtora, em que todas as unidades estavam vendidas muito antes da entrega.
Como o senhor avalia o atual cenário de Caxias?
Caxias sempre foi um dos mais importantes centros da construção civil do RS. O maior é Porto Alegre, mas no interior o mais forte é o de Caxias. O município não teve grandes construtoras, mas sempre tivemos empresas fortes, com credibilidade. Sabemos que o setor teve problemas (os aventureiros), mas é uma cidade diferente das outras. Ela é pujante, é forte, mesmo com as dificuldades que está enfrentando.
O senhor vivenciou o boom da construção civil, entre 2009 e 2013. A partir daí, o setor quase estagnou e muitos imóveis ficaram fechados na cidade. Como a Exacta driblou esta crise?
As crises sempre existiram. Passei por várias delas, entre elas a extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH), em 1986. Em 2005, quando assumi a presidência do Sinduscon Caxias, era o começo deste crescimento além da curva normal. Eu sempre ressaltava que as empresas tinham que se tornar fortes, bem estruturadas. As que se estruturaram, conseguiram superar a crise. As que não se fortaleceram, saíram do cenário. Há três anos (em 2015), tínhamos nove obras em andamento ao mesmo tempo e novos lançamentos a fazer. Resolvemos recuar nos lançamentos e fazer o dever de casa. Finalizamos todas as obras, sanamos os compromissos com nossos clientes. Em 2016, voltamos a lançar um novo empreendimento. Hoje, temos um banco de terrenos interessante, uma empresa sólida e que sabe andar com as próprias pernas.
A Exacta se destaca no lançamento de imóveis de alto padrão. A escolha desse segmento foi estratégica?
Já tentamos trabalhar com outros padrões, mas não conseguimos nos adaptar. Os imóveis de baixo valor não deram bons resultados. Sempre prezamos pela qualidade, então quando nós fazíamos um orçamento só pensávamos na qualidade. O que aconteceu? O valor de venda não gerava bons resultados. Não temos perfil para trabalhar com programas populares, como o Minha Casa Minha Vida. Nossa expertise é o alto padrão.
Isso teve peso no processo de crescimento da empresa?
Sem dúvida. Nosso foco é este mercado de alto padrão. Não fosse assim, não teríamos crescido tanto. Todas as aquisições de terrenos foram para investimentos neste mercado.
Trabalhar com imóveis sofisticados exige mão de obra qualificada. Como a empresa capacita seus funcionários?
Temos uma equipe que trabalha conosco desde 1989 (quase 30 anos). Eram cinco irmãos, mais sua equipe. Perdemos um, ainda temos quatro. Agora, os filhos deles estão trabalhando em nossas obras. Eles sabem o que e como queremos, são afinados. Estabelecemos uma relação de confiança e estamos agora formando a nova geração. Quando necessário, ajudamos a adquirir novos equipamentos e estamos sempre atentos às novas tecnologias.
A Exacta vai lançar dois grandes empreendimentos até o final do ano. O Athénée Residénce (recém lançado) e o Borgio Verezzi, ambos no bairro Exposição. Não é arriscado investir tanto em um cenário econômico tão conturbado?
Olha, é necessário confiar na tua história e na tua equipe. É preciso acreditar e ter persistência. Não podemos esperar pelos governantes para fazer a economia andar. Temos que fazer a nossa parte e andar com as nossas pernas. Tomar nossas iniciativas, acreditar e lutar para que deem certo.
Qual o montante em vendas destes empreendimentos?
O Athénée terá um VGV de R$ 35 milhões, e o Borgio Verezzi, R$ 50 milhões.
Qual será o custo médio de um apartamento?
Varia de R$ 1,5 milhão a R$ 2,3 milhões.
Existe este poder aquisitivo em Caxias?
Sim, existe.
Qual será a estratégia de vendas?
Temos uma boa equipe de vendas e com ela, vamos captar clientes. Não realizamos pré-vendas. Só vendemos pós-lançamento. A estratégia é despertar o interesse das pessoas em viver bem, com qualidade.
Há ventos favoráveis no front para reativar a construção civil? A queda de juros anunciada pela Caixa chega a favorecer a compra?
Sim, as famílias vão continuar crescendo, os filhos querem sua independência. Portanto, temos espaço para crescer. Tenho boas perspectivas. A queda de juros e o aumento no valor de financiamento de imóveis que podem ser comprados com recursos do FGTS, que vai passar para R$ 1,5 milhão a partir de janeiro de 2019, vão ajudar a impulsionar o mercado de alto padrão.
O que é necessário para o setor deslanchar?
Mais incentivo do governo. Apesar da Caixa ter reduzido os juros, ainda não é o suficiente para o setor deslanchar. O grande fomento ainda vem do governo. Aprovar o cadastro positivo é outra medida essencial. É preciso dar mais confiança e vantagens para os bons pagadores.
Quais os planos futuros da Exacta? Vão abraçar novos mercados?
Sempre atuamos em Caxias. Foi a sociedade caxiense quem comprou nossa qualidade, confiança e seriedade. Temos uma relação muito boa com a comunidade. Mas, além disso queremos construir e vender mais. Temos planos de avançar para Gramado porque é um município da região. É uma cidade turística que tem grande procura de imóveis em todo o Brasil. Estamos prospectando alguns negócios por lá, mas não iremos sair de Caxias. A base sempre será aqui. Estamos satisfeitos com o nosso mercado.