A safra da principal fruta da Serra, cultivada em uma área que soma cerca de 38 mil hectares, será de números lamentáveis neste ano. Em relação ao volume produzido em 2014/2015, a queda prevista para esta temporada é de 65% e, na comparação com a média histórica, a baixa é de 56%. As 855 mil toneladas da última safra darão lugar a apenas 304 mil toneladas neste ano, o que representa cerca de 550 mil toneladas a menos da fruta no mercado. O impacto financeiro da quebra também impressiona: serão R$ 380 milhões de reais que deixam de circular na cadeia vinícola.
Esses e outros números foram apresentados na manhã desta quarta-feira pela Emater/RS-Ascar de Caxias, em coletiva realizada na Ceasa Serra. Conforme o levantamento da entidade, a previsão é que todas as frutíferas cultivadas na região nesta temporada apresentarão quebra de safra. A única exceção é o morango, que deve registrar um "empate".
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Uma série de fatores motivou esse cenário desolador nas plantações, explica o engenheiro agrônomo da Emater Enio Ângelo Todeschini. O clima foi um dos principais vilões: o número de horas de frio foi insuficiente (enquanto a média histórica na região aponta para cerca de 410 horas abaixo de 7,2ºC de abril a setembro, em 2015 foram registradas apenas 140 horas no período), o calor forte de agosto antecipou a brotação e o florescimento das plantas, a geada tardia de setembro causou danos em boa parte da produção e, para piorar, choveu muito acima do normal no final do ano, prejudicando a formação dos frutos.
Não bastasse toda essa soma de intempéries, no caso da viticultura ocorreu ainda o chamado esgotamento fisiológico, que é natural após várias safras com alta produtividade (que foi o caso da temporada 2014/2015). O dólar alto também prejudicou as plantações, já que os fungicidas e fertilizantes costumam sofrer interferência da moeda americana.
- Como o número de aplicações de fungicidas mais que dobrou com o excesso de chuva e o dólar aumentou 53% em 10 meses, o custo variável de produção foi multiplicado por três - analisa Todeschini.
O resultado de tantos impactos na produção está gerando uma valorização dos produtos, seguindo a velha lei da oferta e procura. A Emater estima que, em média, todas culturas afetadas na temporada terão em torno de 25% de aumento (uva, caqui, kiwi, pêssego, figo e ameixa). No caso da maçã, o aumento estimado é de 15%.
Mesmo com a alta nos preços, o impacto financeiro direto é de R$ 444,6 milhões a menos no mercado.
- Indiretamente, o valor perdido é ainda maior, já que esse é o número calculado só na produção. Sabemos, por exemplo, que normalmente o preço triplica até o consumidor final. Tudo isso impacta muito na economia geral da região e na geração de empregos - alerta Antônio Conte, engenheiro agrônomo da Emater/RS.
Redução expressiva
Safra da uva deste ano terá queda de 65% na Serra Gaúcha
Estimativas parciais das frutíferas da região foram apresentadas pela Emater nesta quarta-feira
Ana Demoliner
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