Apesar da grande maioria dos trabalhadores caxienses fazer parte de categorias que contam com convenções coletivas - e que, portanto, independem do piso regional -, o reajuste de 16% no salário mínimo do Estado, confirmado pela Justiça nesta semana, deve impactar indiretamente em todos os setores. O reflexo ocorre porque o aumento determinado para o piso gaúcho costuma ser um balizador em outras negociações. Em tempos de mercado retraído, o reajuste expressivo anunciado esta semana chega como um novo baque aos custos do setor produtivo da Serra.
No setor metalmecânico, que fechou mais de cinco mil postos de trabalho no ano passado e viu o faturamento cair 14,66%, o impacto virá no piso da categoria. Atualmente fechado em um pouco mais de R$ 1 mil, o valor terá que passar obrigatoriamente por um reajuste de cerca de 9%, na data-base do dissídio em junho, para se encaixar na faixa em que a categoria está no salário mínimo gaúcho (R$ 1.095,02). O índice geral do dissídio não precisa ser o mesmo determinado para o piso.
- Esse aumento contaminou as negociações e se soma a outros baques que tivemos, como aumento de energia elétrica e de combustíveis. Não temos margem pra mais nada. Repor a inflação já não caberia e 16% é mais do que o dobro disso - destaca Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs).
As grandes indústrias, destaca o dirigente, já pagam mais do que o piso. O problema maior será nas médias e pequenas:
- Se as menores já estão demitindo, com esse baque devem reduzir ainda mais o quadro. É isso que quem decide esses ajustes não pensa: é melhor ganhar menos e sempre, do que muito só em um mês - lamenta Fonseca.
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), Carlos Heinen, também considerou o aumento "fora da realidade". Ele alerta para a perda de competitividade que o aumento trará ao produtos e serviços gaúchos.
- O valor está cerca de 30% acima do salário mínimo nacional. É claro que todo mundo, inclusive o empresário, quer que o trabalhador ganhe mais. Mas um aumento desses, no cenário atual de dificuldades, é uma irresponsabilidade - ressalta Heinen.
Salário mínimo gaúcho
Reajuste de 16% no piso regional impactará em todos setores de Caxias
Indiretamente, reflexos do aumento chegarão também nas categorias com convenção coletiva
Ana Demoliner
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