Eles estão saindo de cena sem deixar sucessor no mercado. Kombi e Uno Mille não são mais produzidos desde o final do ano passado, em razão de não terem condições de receber airbags e freios ABS, equipamentos obrigatórios desde janeiro.
No entanto, aqueles fabricados antes da resolução do Conselho Nacional de Trânsito entrar em vigor ainda podem ser encontrados nas concessionárias. Só que não há muitos exemplares.
Na quarta-feira, havia apenas três Kombis zero disponíveis nas revendas de Caxias do Sul. Duas delas da edição especial: integram as 1,2 mil unidades fabricadas no Brasil para marcar o fim da linha depois de 56 anos. Do Uno Mille, conhecido como um dos carros mais econômicos, há apenas sete. A procura pelos veículos aumentou entre novembro e dezembro, principalmente por causa da notícia de que estavam se despedindo.
A Panambra, revenda Volkswagen, tem apenas duas Kombis, as duas da edição especial, que chegaram na loja na semana passada. Têm banco em couro, pneu diferenciado, som original, são acarpetadas e possuem as cores azul e branca, as mesmas dos primeiros utilitários produzidos. É direcionada a colecionadores. O custo de cada uma é de cerca de R$ 85 mil, R$ 35 mil a mais do que a tradicional. Em média, eram vendidas 20 delas por mês na cidade. Em novembro e dezembro, foram comercializadas 30% a mais que em outros meses.
- Acho que esse percentual foi baixo porque as pessoas não estavam acreditando que ela não seria mais fabricada. Ela tem um público fiel. Se adapta ao estilo do cliente, transporta hortifrutigranjeiros, produtos de padarias, de mercados, passageiros. Com certeza fará bastante falta - diz a gerente-geral da Panambra Sul Caxias, Analine Oro.
Na Carburgo, resta ainda uma Kombi, tradicional.
- É um carro que chegou há pouco. Vou colocar no showroom e certamente vai aparecer um apaixonado por esse tipo de veículo. Existe uma legião de kombistas que vai acabar comprando este carro - acredita o gerente-geral da Carburgo, Eduardo Stoever.
Os sete Milles zero existentes em Caxias estão na Sulpeças. Em média, eram vendidos de 20 a 30 por mês na concessionária. No final do ano, a procura pelo modelo subiu em torno de 20%, conforme o diretor comercial, Jader Guerreiro.
Quem mais adquire o veículo são empresas. Na concessionária Marajó, havia quatro. Todos foram vendidos entre sexta e terça-feira. Uma das compradoras é a vendedora de cosméticos Marlei Anesi Brito, 59 anos. Ter um carro sem airbags e freios ABS não influenciou na aquisição. O motivo que a fez levar para casa, quarta-feira, um dos últimos exemplares do Mille foi sentimental. Ela dirige Fiat desde que tem carteira de motorista, no final da década de 1970. Quando o Mille não existia ainda, era o 147 que a levava para todos os cantos. Entre esse modelo e o Mille, o marido, Enio Prux Brito, calcula que tiveram pelo menos 10.
Os dois filhos também são motoristas de Mille. Na semana passada, ela procurou a revenda para trocar de carro - o atual está com ela há 10 anos. Soube então da saída de linha. Apresentada a um exemplar da edição especial, de despedida, se apaixonou. Marlei passou a ser a dona do veículo 237 da série Grazie, Mille que possui 2 mil unidades no Brasil. Ele custa cerca de R$ 32 mil - R$ 6 mil a mais que o tradicional - e tem rádio, CD, MP3 e Bluetooth, estofamento bordado com o logo da série limitada, bancos traseiros com apoio de cabeça, forro no teto, pedaleira esportiva, entre outros diferenciais. O modelo era o único da loja.
- Quando me mostraram esse, olhei com os olhos do coração. Olho para ele com carinho especial, como se fosse uma joia. Não trocaria pelos modelos mais sofisticados - decreta Marlei.
Antes de janeiro, 60% dos carros produzidos no Brasil tinham de sair da fábrica com airbag e freio ABS. Os equipamentos de segurança tornam os veículos de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil mais caros.
Economia
Apaixonados por Kombi e Uno Mille ainda podem comprar últimas unidades
Veículos deixaram de ser fabricados no Brasil após a obrigatoriedade de freios ABS e airbag, mas ainda há carros zero em Caxias do Sul
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