Não basta disponibilizar os ouvidos. O ato da atenção envolve o corpo e a mente como um todo, com uma concentração cada vez mais ausente. Em um mundo repleto de estímulos, carecemos de foco para colocar em prática essa ideia. Penso sobre isso depois de ler um ensaio da filósofa Simone Weil. Para ela, o verdadeiro ato de amor pressupõe uma escuta quase reverencial com os interlocutores: “Decidimos que o que acontece em nossas cabeças é mais interessante e mais importante do que se passa no resto do universo.” Por isso a necessidade de expandir o apetite pelos fatos e criaturas próximas. O cuidado de si significa estar atrelado à saúde emocional, mas levado ao paroxismo se revela patológico. Conheci, ao longo dos anos, seres agradáveis, simpáticos, mas incapazes de promover vínculos verdadeiros, impregnados de empatia. Para muitos, o relato de alguém é apenas o intervalo para retomar um discurso encharcado de ego. Histórias alheias servem somente como um hiato para desenvolver o próprio pensamento. Existe nome diverso para isso senão egoísmo? Quando saímos da redoma do Eu conseguimos ampliar a consciência e o resultado é sentir a presença do outro, assimilando suas queixas e alegrias. Tudo deveria ser considerado, pois as relações verdadeiras só se estabelecem quando há envolvimento pelo que se descortina em suas vidas.
NA ERA DO TIKTOK
Notícia
Preste atenção
Creio ser essa uma das razões por esbarrarmos em tantas pessoas psiquicamente enfermas: a incapacidade de conjugar os pronomes além do eu
Gilmar Marcílio
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