Com uma guerra em curso atualmente, a questão dos refugiados tem ganhado bastante atenção. Mas a verdade é que ela nunca deixou de estar sob discussão, principalmente quando a pauta é o mundo islâmico e seus constantes conflitos. Bagdá Vive em Mim – longa que estreia nesta quinta (24) na Sala de Cinema Ulysses Geremia – reúne narrativas paralelas de personagens que deixaram seu país de origem, o Iraque, em busca de uma nova vida na Inglaterra. Uma particularidade da obra é que, ao invés de abordar a adaptação desses personagens longe de casa, tema que já povoou diversos filmes; o diretor e roteirista Samir Jamaleddine aponta sua câmera para os fantasmas que cruzam fronteira junto com cada uma dessas pessoas.
O centro da narrativa é o Café Abu Nawas, comandado por um casal de comunistas. É ali que os demais refugiados de Bagdá se encontrarão e terão suas histórias atravessadas pelo medo e pela impunidade. O protagonista é Taufiq, um escritor que ganha a vida como vigilante de um museu. As primeiras cenas do filme abordam o passado desse personagem, quando foi preso e torturado junto ao irmão por militantes do partido de Saddam Hussein. Vale destacar que o flashback é um recurso bem presente no longa, mas nem sempre de uma forma convincente.
De volta ao presente, Taufiq descobre que o sobrinho acaba de ser preso. É a partir daí que a ligação entre os vários personagens do longa começa a se desenrolar – o vaivém de histórias pode confundir um pouco o espectador, cabe alertar. A arquiteta Amal (vivida por Zahraa Ghandour, atriz muito conhecida no Iraque) é a garçonete do café citado anteriormente. Ela foi parar em Londres para fugir do marido abusivo e, aos poucos, descobre-se a conexão política entre esse homem e o sobrinho de Taufiq. A partir deles, o roteiro cruza a política com o fanatismo religioso, mistura perigosa em qualquer território.
Outro personagem a orbitar no ambiente do café é o analista de sistemas Muhannad, jovem que se vê perseguido por sua orientação sexual. Ele será o centro de um ataque violento que marcará a vida de todos.
Ao confrontar seus personagens com questões de intolerância que os assolavam no país de origem, o diretor parece falar também sobre si mesmo. Isso porque Bagdá Vive em Mim encontrou muita dificuldade para ser exibido no Iraque, justamente por trazer uma abordagem ainda inadmissível por lá. Expondo mazelas do mundo atual, o filme acaba sendo um tratado pela valorização da liberdade.
Programe-se
- O quê: drama “Bagdá Vive em Mim”, do diretor Samir Jamaleddine.
- Quando: estreia nesta quinta (24) e fica em cartaz até o dia 3 de abril, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
- Quanto: ingressos a R$ 16 (geral) e R$ 8 (estudantes, idosos e servidores municipais).
- Duração: 104min.
- Classificação: 16 anos.