Após o recesso de férias, a retomada da programação na Sala de Cinema Ulysses Geremia traz a Caxias do Sul o festejado longa nacional Deserto Particular. Já premiado em países como Israel e Espanha, o drama também foi escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O diretor Aly Muritiba (de Ferrugem e Para Minha Amada Morta) conseguiu esse feito com uma narrativa defensora do amor frente aos discursos de ódio que, ironicamente, tanto têm projetado o Brasil atual internacionalmente.
Deserto Particular possui um prólogo cronometrado de 30 minutos. Esse tempo é utilizado para contextualizar o cenário árido no qual se encontra o protagonista Daniel (Antonio Saboia). Afastado do serviço como policial depois de ter perdido o controle e cometido um erro grave contra um colega, ele passa os dias cuidando do pai debilitado e correndo atrás de sua própria sobrevivência em Curitiba. O único escape dessa realidade “desértica” de afetos se dá por meio do contato virtual com uma mulher, Sara. Mas quando o silêncio toma conta do relacionamento entre eles, Daniel decide partir numa jornada desvairada em busca de amor. Só então, quando o protagonista entra no carro rumo ao nordeste do país para encontrar Sara, que o letreiro do filme surge na tela. É um recado claro de que essa será uma história sobre caminho, sobre busca, sobre fuga e também sobre encontro.
Aly Muritiba é baiano radicado no Paraná. Não por acaso, colocou seu protagonista para cruzar o país, saindo justamente de Curitiba para chegar até Sobradinho, no interior da Bahia. Essa jornada do sul ao nordeste, para o cineasta, também representa a ponte entre uma região mais politicamente conservadora com outra mais progressista. Na tela, o diretor mostra uma Curitiba introspectiva, asfáltica e de cores frias que contrasta com uma Sobradinho cheia de tons vivos, terra e sentimentos à flor da pele (a trilha com nomes como Odair José e Pablo acompanha o clima).
Quando Daniel finalmente encontra pistas que podem o levar a Sara, o filme abre seu leque de olhares para focar atenções na perspectiva da protagonista feminina, destacando principalmente a construção de sua identidade. Ela vai precisar lidar com a intolerância generalizada que assola tanto a pequena comunidade onde vive quanto o homem cheio de conflitos vindo da cidade grande – e de quem ela justamente mais esperava afeto.
Clássico absoluto de Bonnie Tyler (e de todo show de calouros que se preze), Total Eclipse of the Heart é a canção tema do longa. A letra é narrada por alguém que amarga uma profunda desilusão, sentimento compartilhado tanto por Daniel quanto por Sara. Mas Deserto Particular aponta um caminho de cura para a sombra deixar o coração em paz. O afeto salva.
Ingressos
Os espectadores da sala Ulysses Geremia encontrarão os valores de entrada mais caros. A partir desta quinta (6) os ingressos para as sessões passam a custar R$ 16 para o público geral e R$ 8 para meia-entrada (idosos, estudantes e servidores públicos municipais). O valor anterior era de R$ 10 e R$ 5, respectivamente. A Secretaria Municipal da Cultura pondera que os valores não sofriam reajuste há seis anos e que o aumento é necessário para a manutenção da sala.
Programe-se
- O quê: drama nacional “Deserto Particular”, de Aly Muritiba.
- Quando: estreia nesta quinta (6) e fica em cartaz até o dia 16, com sessões de quinta a domingo, às 19h30min.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Rua Luiz Antunes, 312).
- Quanto: R$ 16 (geral) e R$ 8 (meia-entrada).
- Duração: 120 minutos.
- Classificação: 14 anos.