Apesar de dirigido por um homem – Jean-Paul Salomé –, dá para se dizer que o longa que estreia na Sala de Cinema Ulysses Geremia nesta quinta (20) destaca e valoriza as narrativas femininas. Não somente porque a A Dona do Barato é inspirado num livro da autora francesa Hannelore Cayre, mas também porque baseia sua trama na união de mulheres que já passaram dos 40, são imigrantes de diferentes origens vivendo em Paris e aprenderam a ser protagonistas de seus próprios destinos. Mesmo que isso exija uma certa rebeldia fora da lei.
A comédia centraliza suas atenções na personagem Patience, interpretada por Isabelle Huppert, uma das maiores estrelas do cinema francês contemporâneo. Ela é uma descendente de argelinos que utiliza seu conhecimento na língua árabe para trabalhar para a polícia, traduzindo escutas telefônicas de traficantes – a atriz realmente aprendeu ao idioma para participar do filme. Viúva e com duas filhas jovens, ela enfrenta problemas financeiros, principalmente para manter a mãe, que parece sofrer de Alzheimer, numa clínica. Apesar do emprego pouco usual, que garante certa adrenalina à rotina da intérprete, ela parece insatisfeita num geral.
Se Patience se mostra um pouco fria na relação com o namorado – chefe do setor de narcóticos da polícia – é a empatia despertada por outra mulher que acaba mudando os rumos da vida dela. Numa das escutas, a intérprete acaba reconhecendo a voz da mãe de um dos traficantes e decide intervir na situação, enganando os policiais para proteger a família da mulher, uma imigrante árabe. A situação acaba por colocar uma inesperada carga de haxixe no caminho da protagonista, que decide criar uma nova personalidade e se infiltrar no universo do tráfico.
Além de Patience e da mulher que ela decide arbitrariamente ajudar, o longa completa seu leque de personagens interessantes com a mãe idosa da protagonista e uma vizinha chinesa muito esperta. Todas elas são ousadas à sua maneira e desafiam a todo momento o que é esperado de uma mulher, criando um mosaico de destemidas possibilidades. Na outra ponta, os personagens masculinos parecem todos meio bobos perante às densas camadas apresentadas por elas.
Oferecendo um ritmo empolgante do início ao fim, é muito improvável sentir-se entediado com A Dona do Barato. Além do roteiro cheio de reviravoltas, é preciso lembrar que se trata de uma comédia, ou seja, há muitas tiradas engraçadas no filme – um exemplo são as impagáveis cenas nas quais os traficantes conversam utilizando jogos online, para driblar as escutas nos celulares. O destaque à uma protagonista amoral é outro acerto da história, detalhe que sempre desafia os conceitos pré-estabelecidos do espectador.
Matinê
Além da estreia de A Dona do Barato, a sala Ulysses Geremia também oferece a programação do Matinê às 3, todas as quintas, às 15h. Nesta quinta (20), a sessão será com O Terminal, protagonizado por Tom Hanks. Já na próxima quinta (dia 27), a atração será O Show de Truman, estrelado por Jim Carrey. A entrada é franca e é obrigatória a apresentação de comprovante de vacinação.
Programe-se
- O quê: comédia francesa A Dona do Barato, de Jean-Paul Salomé.
- Quando: estreia nesta quinta (20) e fica em cartaz até o dia 30, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312), em Caxias.
- Quanto: R$ 16 (geral) e R$ 8 (idosos, estudantes e servidores municipais).
- Duração: 106 minutos.
- Classificação: 12 anos.