O rosa é uma cor muito presente no filme Transtorno Explosivo, drama alemão que estreia nesta quinta (18) na Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias do Sul. As roupas que a protagonista — Benni, de nove anos — usa são quase todas dessa cor. Mas ao acompanhar a narrativa, logo fica claro que a presença massiva da meiguice/fofura que esse tom sugere escolhida para emoldurar um filme sobre uma criança com violentos distúrbios emocionais é apenas uma das desconstruções propostas pela diretora Nora Fingscheidt.
A cena de abertura de Transtorno Explosivo causa um desconforto que acompanhará o espectador durante quase todo o filme. Nela, Benni aparece realizando um exame de saúde enquanto a câmera passeia pelos diversos hematomas que seu corpo pequeno carrega. Poucos minutos depois, é possível descobrir como ela conseguiu tais marcas: durante um surto repleto de gritos e violência entre os colegas de escola. Cenas assim, envoltas em palavrões, gritos e sangue jorrando sem piedade, vão se repetir diversas vezes durante o longa. Está aí outra desconstrução interessante proposta pela obra, a de explorar facetas psíquicas da violência atreladas ao universo infantil.
Premiado em diversos festivais internacionais, Transtorno Explosivo levou também o Prêmio do Júri e o Urso de Prata no Festival de Berlin, além de ter sido escolhido para representar a Alemanha no Oscar 2020. Na história, Benni vive pulando de um lar temporário a outro por conta de seu mau comportamento. As pessoas que convivem com a menina precisam lidar com perturbadores surtos de selvageria que chocam a todos. Nem mesmo a mãe da criança sabe como lidar com tais problemas e acaba se afastando da filha. Essa ruptura no laço fraterno, aliás, é campo para as cenas com maior carga emocional no longa. Apesar da raiva exacerbada e do descontrole emocional que a caracterizam, Benni se comporta como uma garotinha carente de amor e atenção toda vez que menciona a mãe. Seu maior desejo é poder voltar a morar com a família.
O filme também foca atenções no trabalho de alguns tutores e assistentes sociais que acompanham o caso da menina — nesse aspecto, a narrativa se assemelha um pouco do longa Mais que Especiais, exibido na sala durante o Festival Varilux de Cinema Francês, porém, o caráter obscuro de Transtorno Explosivo se conecta mais com o premiado Precisamos Falar sobre o Kevin. O roteiro explora principalmente a relação de Benni com Michael (Albrecht Schuch), que acompanha sua rotina na escola. É ele o responsável pela maior parte das tentativas de ajudar Benni a se livrar dos surtos e traumas. Suas ações vão até mesmo ultrapassar a barreira profissional.
Além de tratar de um assunto pouco explorado no universo do cinema, os distúrbios emocionais durante a infância, Transtorno Explosivo também vale pela atuação incrível da atriz mirim Helena Zengel, que vive a protagonista. Neste ano, a menina se juntou ao time dos atores mais jovens a indicados em premiações como o Globo de Ouro e o SAG. Ela foi notada por conta de sua atenção na badalada produção da Netflix Relatos do Mundo, na qual contracena com Tom Hanks.
PROGRAME-SE
- O quê: drama alemão Transtorno Explosivo, de Nora Fingscheidt.
- Onde: Sala Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
- Quando: estreia nesta quinta (18) e fica em cartaz até o dia 28 de fevereiro, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
- Quanto: ingressos a R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
- Duração: 118min.