No Almanaque do último final de semana (17 e 18 de agosto) foi abordado "Quem são e o que pensam os conservadores caxienses". Nesta edição, será revelado o pensamento de quem tem uma visão mais progressista e à esquerda, em Caxias.
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Mulher, negra e nascida na periferia. A mãe tinha 15 anos quando Estelinha, como é chamada pelos amigos, nasceu. O pai, artesão, vende seu trabalho no centro de Caxias. Aos 19 anos, Estela Balardin da Silva diz ter consciência de classe, porque viveu (e ainda vive) as dificuldades dessa escalada social. Ainda não tem filhos, mas sonha poder dar uma educação de ponta, mesmo que seja em escola privada para sua descendência.
— Ele até pode vir a estudar em cursinho para poder entrar em uma boa faculdade, mas quero que ele tenha a consciência de que muitos lutaram para que ele tivesse esse acesso e muitos continuam a lutar. Vou explicar a ele que sim, a geração da mamãe foi a que elegeu Bolsonaro, mas que ele pode fazer a diferença na sociedade — defende.
Estela diz ter desabrochado para a política dentro do movimento estudantil, sobretudo em 2016, quando foi presidente do Grêmio da Escola Cristóvão de Mendoza.
— Aquele movimento das ocupações das escolas foi incrível. O grêmio começou a ter voz para bater de frente e cobrar pela merenda, por reformas, para dizer que o teto estava caindo na cabeça dos alunos. Naquela época, tínhamos a equipe diretiva contra, mas mesmo assim conseguimos, em assembleia, unanimidade dos alunos dos três turnos para fecharmos a escola — lembra Estela, dizendo que guarda um pequeno orgulho no coração de ter sido a primeira chapa do magistério a vencer o grêmio, em 85 anos de escola.
Luta pela igualdade
Estela defende o movimento organizado para superar deficiências históricas no Brasil.
— A esquerda busca representatividade, não precisaria existir uma pauta feminista se não houvesse o machismo. Não lutaríamos por igualdade se não fôssemos tratadas de forma desigual. Não precisaria existir uma cota nas universidades se os graduados fossem na mesma proporção de negros e brancos.
Se o povo fosse unido, acredita, muitas das desigualdades deixariam de existir, e as pessoas teriam suas demandas atendidas de forma coletiva.
— Quem é a maioria? É o povo! Se todos nós nos reuníssemos tomaríamos o poder. A gente ainda, no século 21, tem de lutar por espaços de fala. A mulher tem de estar na política, por isso é preciso criar um grupo que lute para conquistarmos 50% do espaço. Os homens até podem nos representar, mas não têm legitimidade de ir lá e falar, porque essa é uma luta das mulheres. Os homens podem entender o sofrimento, mas nunca sentir, porque nunca sofreram o que as mulheres ainda enfrentam — explica.
Apesar de tudo, lutar
— Sou de esquerda, acredito nos partidos e sou socialista — defende.
Idealista, Estela entende que o atual cenário político, mais à direita, pode endurecer pautas importantes da esquerda, mas é preciso resistir e se permitir sonhar.
— Eu tenho uma frase que me marca muito: "Luto em busca de sonhos e utopias".
Sonhos e utopias é o nome de uma música cantada por Dante Ramon Ledesma, cuja letra diz: "Num sonho profundo / Vi raiar auroras / Um bater de esporas / No meu coração / Crianças livres / Chegando na escola / Sem pedir esmolas / Cheias de ilusão".
Por que ainda lutar, Estela?
— Por que ainda se luta? Atualmente, é difícil dizer que eu sou de esquerda, colocar a bandeira do meu partido e sair com a cabeça erguida, sabendo que tô certa, porque os outros dizem que estou errada. Lutamos por oportunidades e plena liberdade das pessoas em poder sonhar. A minha geração viu um futuro de portas abertas e eu quero que as próximas também vejam.