Transa. Se tem uma coisa com a qual eu e minha esposa compartilhamos um amor profundo é o álbum Transa, do Caetano Veloso. É claro que compartilhamos outros gostos por livros, filmes, performances, artistas, lugares, comidas, mas já que este é o mês dos leoninos também, vou falar do Caetano.
Acho que a primeira vez que eu vi a Dani cantando "nine out of ten movie stars make me cry, I’m a alive" eu calei. Eu estava cantando também, não lembro muito bem da ocasião, não importa, na hora em que bati o olho nela cantando, fiquei quietinha. Lembro apenas que a letra nos lábios dela fazia muito mais sentido: expect the final blast. Tudo explodia mesmo. Estávamos alive vivas muito vivas feel the sound of music banging in our belly belly belly. Pois, aí talvez as borboletas todas vieram nos apaixonar. Eu não precisava saber de nada anterior, não precisava saber a quem aquela música pertencia se pertencia a alguém, nem o que aconteceria depois, sei que ali nos apaixonamos. Esse disco foi feito enquanto Caetano estava no exilio, e a gente se apaixonou longe de casa também, no clichê dos clichês: nos conhecemos em Paris.
Dani estava morando em Paris havia seis anos. A Europa é maravilhosa para turistas, paisagens incríveis, a estrutura social é mais igualitária, a violência menos concreta, mas você, você é sempre estrangeiro, sempre imigrante, forasteiro. Dani sabia disso. Eu não, eu vivia a fantasia ainda. Não se enganem com um papelzinho, mesmo que ele diga cidadão europeu. Enfim, nos encontramos estrangeiras também e forasteiras de amores distantes.
A Europa é meio morta, velho continente velho, lembranças de guerras e dominação. Lá, parece que é preciso sempre buscar e resgatar vitalidades. Tão caras, especialmente para nós, latino-americanos. E Transa é uma ode à vida, à força, à resistência e aos encontros.
A gente resiste ao peso do velho mundo e das velhas ideias, que herdamos sem contestar e que pra eles, europeus colonizadores, não são nem mais um problema, a discussão está superada. Coisas simples como ser gay, lésbica ou bi, ou trans, enfim, coisas que moram na filosofia (Pra que rimar amor e dor?) e nas velhas leis que repetimos.
Contextos respeitados e desrespeitados. Subvertemos algumas canções. Fizemos nossa própria. Amamos Transa. É um baita álbum. Nutrimos um amor quase nostálgico pelas canções, como se fossem nossas mesmo.
E vocês? O que compartilham de bonito com seus amores?