A minha família está longe de ser uma família perfeita, tampouco sempre foi uma família amorosa. Fomos nos construindo no decorrer do tempo, fomos nos conhecendo, demostrando nossas personalidades. Fomos aprendendo. Com o tempo passamos a nos abraçar mais, a nos compreender mais, a nos dar carinho mais frequentemente.
Lembro que minha vó ficava um pouco sem jeito quando, depois de grandes, nós, os netos, a abraçávamos e a beijávamos. Não estava no contrato familiar tanta demonstração de carinho. Há famílias que são assim, e há tantas outras.
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Quando contei ao meu pai que era lésbica, ele disse que me apoiaria, mas que não poderia me compreender, já que não havia passado pelas mesmas dificuldades do amor. Depois me disse que amor era amor mesmo. E me deu um abraço. Ele se colocou no meu lugar e aquele gesto para mim, ficou marcado como uma imagem magnífica de amor. Quando contei a minha mãe, ela me fez um chá de camomila e me disse para ficar com os pés quentes. Eu tinha levado um pé-na-bunda. Os dois foram lindos, amorosos, incríveis.
Por isso, eu nunca tive medo de dizer nada para eles, porque eu sabia que neles, eu poderia confiar sempre. Sabia que em casa, eu seria sempre amada e compreendida. E como isso foi importante para minha formação pessoal, para minha confiança, para que eu me tornasse uma pessoa mais aberta e mais atenciosa com os outros. A atitude dos meus pais foi determinante. Não consigo imaginar a minha vida se a história tivesse sido diferente. Se eles não me aceitassem, não me compreendessem, se me repelissem. Não posso imaginar o sofrimento. Agradeço sempre aos meus pais por isso.
Mas nem todas as histórias são assim.
Há violência, abandono, há negligência, repulsa. Há dor e, por vezes, há mortes. Que triste destino. Sofrer porque ama. Morrer porque ama. Sentir-se sozinho porque ama.
Se você tem um filho ou uma filha lésbica, gay, bi, trans, queer, pense na diferença que você pode fazer na vida dessa pessoa. Pense no bem que um relacionamento saudável familiar pode fazer a todos vocês.