Me disse uma amiga que a revolução teria que ser amorosa e violenta. Por dias fiquei pensando no quão contraditório aquilo era. Até que me dei conta de que amar como bicho, amar violentamente não era uma coisa desconhecida para mim. E não era nada passivo, não era paciente, nunca foi. Não é e não será. O amor é bruto e urgente. Pense. Você não defenderia alguém que ama com toda a força que tem? Não fazemos mesmo o que alguns chamam de loucura, quando amamos alguém? Não imaginamos os caminhos possíveis para marcar a felicidade de um irmão, uma mãe, uma esposa, filhos, amigas? Não? Quando amamos fartos? A imagem que fica é a do estudante com a flor na frente do tanque de guerra. Mas como foi que ele chegou ali? Que forças o fizeram arrancar a flor e plantá-la ali na história?
Escrevo essas ideias, enquanto o avião se afastava de Porto Alegre. Vamos em direção a Lima. A turbulência não passava. Ficamos sacudindo por muito tempo, sobre as planícies e depois sobre as montanhas. Cada vez que um vento mais forte nos desestabilizava, eu apertava a perna da Dani, segurava a mão dela. É reflexo, acho. Estamos juntas nessa turbulência, e vai passar. Ela apertava de volta, mas dormia tranquila. Minha cabeça dando voltas na queda, na interdição, nos planos futuros, agora suspensos.
Até que avistamos o Pacífico, turvo na neblina. Avistamos barcos e telhados, ferrugem e tempo. Bastante tempo entre o fuso e o atraso. Era a primeira vez que eu via o Pacífico. Olha, eu disse, vamos ver uma coisa nova juntas logo logo, mas agora, segura minha mão com força.