Nesta Copa, meu coração é verde. Não verde-amarelo. Apenas verde, como os lenços das milhares de mulheres argentinas que saem às ruas para reivindicar a resolução de um problema de saúde pública. O jogo foi tenso e houve pressão durante todo o tempo. Longo tempo, há anos que organizam táticas. As imagens são claras. O verde, símbolo da luta, esteve presente sempre. A Argentina deu um grande passo em direção à vida das mulheres: está a favor do aborto legal, seguro e gratuito. A Câmara aprovou. Agora vai para o Senado. Foi um dia histórico e, conversando com amigas argentinas, me disseram que vão continuar pressionando para que a coisa se resolva logo. Farão vigílias, marchas, encontros, debates, esclarecerão a população, continuarão falando a todas e todos sobre a importância de garantir esta lei.
Gostaria de esclarecer o que eu penso sobre o aborto e sobre isso tudo. Eu jamais abortaria em situações convencionais. ? Essa é a minha posição pessoal. Mas pense você: e em caso de estupro? E com risco de morte? Creio que nenhuma pessoa é a favor do aborto simplesmente. Acho que nenhuma mulher deseja que seu corpo passe por uma experiência deste tipo. O que eu sou a favor é de que se a mulher precisa passar por isso, que tenha o direito decidir e que possa fazê-lo legalmente, gratuitamente e de modo seguro. Que não seja um crime tomar uma decisão sobre seu corpo e que, principalmente, não morra por negligência.
Além do mais, não sejamos hipócritas. Quem tem dinheiro e contato, consegue realizar um aborto com menos dificuldades. Porém quem não tem dinheiro nem contatos nem condições acaba arriscando sua vida em clínicas clandestinas. Às vezes acaba passando por tudo sozinha. Às vezes acaba morrendo. Isso é um problema coletivo. Se nós brasileiras não insistirmos para que a nossa lei se encaminhe. Mulheres continuarão morrendo por nossa culpa. Quem sabe nos somamos às hermanas nesta luta?
Vivemos num país em que uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, e que 70% dessas vítimas são crianças e adolescentes; vivemos num país machista e atrasado em políticas de direitos humanos; vivemos num que caminha para trás e que agoniza politicamente. Precisamos muito desse coração verde, desse verde esperança. Quem sabe deixemos de ser hipócritas e egoístas e pensemos coletivamente? Pensemos nas mulheres.
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