Vir aos Estados Unidos não quer dizer conhecer um país, mas como disse meu companheiro de viagem, confirmá-lo, a princípio. Os prédios, as pessoas, as escadas laterais, as lojas, as farmácias, as sirenes, tudo salta do nosso imaginário para encontrar seu duplo concreto fora de nós. As imagens da guerra, das armas, de seu presidente estúpido, dando sequência a uma escola de estupidez política nos jornais, na televisão, ao vivo. A segurança nos aeroportos, a polidez extremamente cuidadosa, o espaço pessoal a ser respeitado: excuse me, sorriem honestamente. I don’t wanna touch your phone, I don’t wanna touch you, I don’t, tudo se confirma assustadoramente.
Mas estou num país distante. Num país vasto e distinto, com vários países dentro dele. Estou num país que não se repete: o frio de Chicago não é o mesmo que de Evanston; Chicago sobe, Evanston se espalha; o ar de Columbus não é o mesmo que de Albuquerque, o primeiro é cheio de pólen, o segundo cheio de poeira; Nova Iorque te engole e te abraça de jeito estranho, Boca Raton te aquece e te lembra um pouco a tua casa.
Sobrevoei um deserto monótono monocromático descomunal vazio.
Mas estou num país populoso. Um país cuja propaganda externa é a imagem torpe de um homem com bolsos abarrotados de dinheiro e uma arma apontada ao outro, e que por isso, me fez ignorar que há gente aqui. A gente muito boa fazendo deste país algo melhor. Há gente derrubando muros, há abrigo, há respeito e há interesse genuíno. Há gente de todas as cores e línguas e sotaques, há gente de muitos tamanhos e com muitas ideias. Há gente má, é claro, mas há muita gente boa, como disse.
Confirmo os Estados Unidos sim, mas também me surpreendo com este país. Me surpreendo com os contrastes, com os sabores demasiadamente doces, demasiadamente apimentados e completamente sem sal.
Confirmo e reaprendo que olhar o outro, olhar demorada e verdadeiramente o outro, enxergar o outro, ainda é a melhor forma de estar no mundo.