No mês em que celebramos e nos juntamos para pensar o que é ser mulher no mundo; no mês em que compartilhamos nossas vivências na rua; no mês em que celebramos o dia internacional de lutas das mulheres; neste mês, Marielle Franco é executada.
O site Relógios da violência, do Instituto Maria da Penha, nos informa que: a cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência verbal no Brasil; a cada 6 segundos, uma mulher é vítima de ameaça de violência no Brasil; a cada 7 segundos, uma mulher é vítima de perseguição no Brasil; a cada 7 segundos uma mulher é vítima de agressão física no Brasil; a cada 2 minutos, uma mulher é vítima de arma de fogo no Brasil; a cada 22 segundos uma mulher é vítima de espancamento do Brasil; a cada 1,5 segundo, uma mulher é vítima de assédio na rua; a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. O Brasil ocupa o 5º lugar em feminicídios, num ranking de 83 países. A maior parte das vítimas são mulheres negras.
Além disso, segundo o relatório da Anistia Internacional, o Brasil é o país das Américas onde mais se matam ativistas defensores dos direitos humanos, entre eles, defensores do meio-ambiente, líderes comunitários, lideranças indígenas e lideranças LGBTQ.
Agora, há coisas que este relógio da violência não mostra. Há coisas piores com respaldo “oficial”.
Por isso, a Marielle não é só mais um número. Porque ela estava denunciando as estruturas da própria violência. Marielle, defensora dos direitos humanos, socióloga, feminista, negra, lésbica, sua morte, se não é a morte da representatividade, é seu abafamento, é o fechamento de uma brecha, é um tiro na cara da esperança. É um aviso perverso de que a violência está sim ganhando.
Terra arrasada. O que estão fazendo com este país? Terra arrasada. Não vai sobrar nada. Nem gente. Sempre me ponho triste com a situação que vamos enfrentando, não só agora. Mas esta morte absurda, francamente, leva tudo para um lugar mais sórdido. Não consigo entender. Digo, consigo ver este caminho de silenciamento, mas não sou capaz de entendê-lo. Já não é só ganância, só poder. É um atavismo podre e sem nexo da manutenção da nossa política de medo.
E há quem celebre a estupidez, há quem, estupidamente, celebre a estupidez e acredite num mundo melhor, com seus candidatos brancos, engravatados, com os bolsos cheios de dinheiro sujo, empunhando bandeiras que fedem. Há quem nesciamente apoie projetos que escolhem pôr mais e mais medo como seu ingrediente central. Vamos acabar entrincheirados em nossas casas, matando uns aos outros, pela legitimidade da paz.
Até não sobrar mais nada.