Ainda quero escrever sobre a FLIP2017, mas não vai ser hoje. Hoje vou escrever sobre a volta da FLIP. A volta mesmo, quando fui até o aeroporto cedo demais, por conta de uma condição chamada ansiedade, e tive meu voo adiantado. Ótimo, não? Então, Dani e eu entramos no avião, eu sentei na poltrona 1F, Dani na 28C, no fundão. E ao me acomodar, resolvo mandar uma mensagem, antes de pôr o telefone no modo avião: que bom, amor! chegaremos em casa mais cedo. Ao que ela me responde: o Bolsonaro (doravante Bolsonada) tá atrás de ti.
Eu sempre tive medo de voar. Sempre passo por um trabalho mental que envolve exercícios de respiração, mandingas e amuletos antes, durante e depois do voo. E tenho certeza que são essas coisas que mantêm o avião no ar. Mas teve um momento, durante a viagem, em que eu pensei: será que não seria melhor se o avião caísse agora? Será que a vida de todas e todos nós vale sua extinção para aniquilar uma possibilidade de futuro obscura.
Não. Eu não quero um Bolsonada em 2018, nem em qualquer ano, justamente porque eu amo viver. Eu amo viver. E o Bolsonada representa tudo que me faz não viver, não poder existir. O Bolsonada representa a minha morte e a da Dani e a de tantas mulheres e mulheres lésbicas e trans e gays e negros e indígenas, e qualquer pessoa que preza a humanidade antes da canalhice.
E porque não quero me tornar igual a quem repudio, para mim a vida dele também vale (embora eu tenha consciência de que a minha não valha pra ele). Desejar a morte é como me render ao discurso de ódio que ele produz e reproduz.
Somos diferentes.
Quando em solo, retirei minha mala que estava acima da poltrona dele e esperei, ali ao lado, com uma coisa ruim dentro. Dani me disse que pensou a mesma coisa enquanto voávamos. Por isso estamos juntas talvez. Pelo amor mútuo, pelo amor à vida e pelo amor ao próximo. É, piegas... mas real.
Meu estômago se revoltou um pouco ao ver algumas pessoas posando ao lado dele para fotos.
Fizemos o que podíamos ter feito ali naquela situação. Nos beijamos. Nos beijamos frente ao ódio. Não sei se ele viu. Não importa. Dani pegou a mala dela, eu peguei a minha mala, que tem um adesivo com a bandeira gay e a palavra (R)EXISTIR e saímos abraçadas. Dali fomos pra nossa casa, nosso refúgio, que esperamos, nunca seja invadida pelas leis sujas de perverso algum.