No dia dez de agosto, eu estive no Presídio Regional de Caxias do Sul para ministrar uma oficina de literatura. O projeto Escritor na Comunidade tem a participação de doze autores daqui da cidade e, de julho a setembro, nos leva a entidades, centros comunitários, instituições, ONGs e escolas. Já participaram Alessandra Rech, Maya Falks, Nil Kremer, Tiago Sozo Marcon, entre outros.
Fiquei muito ansiosa com isso a semana inteira. Fiquei pensando em como seria, pensando em que tipo de trabalho poderia fazer com as mulheres que conheceria lá, em como abordar a literatura, em como materializar todos aqueles discursos e teorias sobre as quais lemos tanto e, falo pessoalmente da minha formação de professora, de escritora, dentro da teoria da literatura. Elas tinham recebido meu livro havia dois meses, creio, mas eu não queria que apenas falassem do livro, queria que escrevessem algo, independente da leitura. Eu queria que elas se expressassem. Então levei alguns livros de poesia, alguns acabaram ficando lá até. Fiquei genuinamente contente com o interesse e não me importei em deixá-los.
Bem, nada foi como eu tinha planejado. E quem é professor sabe: a gente planeja, arquiteta as aulas, estuda, mas o componente do improviso também é essencial. Lidar com gente faz isso. Muitas vezes é preciso ouvir, é preciso sentir como as coisas estão.
Na minha ignorância, eu nunca tinha parado para pensar em como este evento, em como estas mulheres mexeriam comigo. Foi mesmo um dia de escuta. Um dia de aprendizado. Não sei dizer se foi bom ou ruim. Foi mais, foi essencial.
Sim, algumas tinham lido o livro e quiseram comentar o que sentiram. Sim, algumas escreveram coisas. Sim, algumas se emocionaram com os poemas que levei. Algumas se engajaram no exercício de imaginação. Ninguém fez as coisas como eu tinha planejado, nem eu mesma. Mas o mais importante ali foi realmente ouvir. Ouvir as histórias, as caminhadas. Conhecer algo sobre a consciência daquelas mulheres que se dispuseram estar ali. Elas não foram obrigadas. Saber algo sobre seu estado, sobre sua condição, sobre como desejam uma vida diferente. E sobre como sabem que talvez não consigam, porque não têm condições para tal. Sobre como algumas estão ali por uma incompetência geral da nossa sociedade.
Com frequência me pergunto, como foi que chegamos aqui? Não há uma resposta simples, assim como não há uma solução simples para o nosso momento atual. E quem acha que há, precisa prestar mais atenção no outro, de fato. Exercer a escuta é um bom começo.