Tem alguma mágica neste espaço-acontecimento que se chama karaokê. Não sei explicar direito, mas é algo que aproxima as pessoas. Algo que acontece já na expectativa e que se concretiza bizarramente durante o evento. Talvez, mesmo por algum tipo de repulsa as pessoas se divirtam. E é engraçado que, apesar de práticas um tanto distintas, as pessoas se conectem da mesma forma ao redor do mundo. Eu sou uma grande entusiasta do karaokê. Canto muito aqui em Caxias, no tradicional Casarão, mas já cantei no Babilônia, em Porto Alegre, em algumas praias do sul, depois, aleatoriamente, em São Paulo, Rio de Janeiro (a feira de São Cristóvão é o melhor lugar, salvo engano), Paris, Londres e até na China. Já cantei em salas públicas, naquelas privadas, em "aquários", com microfone compartilhado, com um microfone para cada participante, paramentada com itens de higiene.
Já escolhi músicas em jukeboxes, cardápio ensebado, touchscreen e através de bilhetes entregues para o organizador da parada toda. Já cantei Bonnie Tyler, Raça Negra, Sandijúnior, Respect, Evidências, sempre um grande hit, Carly Simons, a da Vamp, Unbreak my heart, aquela do di di di di di diê, depois do advento do Sens8, 4 non blondes ganhou outra dimensão, porque é assim no karaokê, você canta músicas, você canta artistas e você sempre canta "aquela". Absolutamente todos têm um música para soltar todos os demônios em forma de berros e caretas de sofrimento e sublimação.
Tem uma matemática aí que pode ou não funcionar neste espaço-acontecimento que é o karaokê. É o seguinte: a medida que você bebe, sua confiança, vontade, coragem, absurdez aumenta, enquanto sua capacidade de fazer escolhas sensatas diminui. Curiosamente, isso não é um problema. É isso que faz o karaokê um lugar tão peculiar. E é isso que garante um rodízio eclético de canções. Afinal, cada ser humano é único em seus sentimentos e capacidades.
E tem outra coisa, o Karaokê é um espaço-acontecimento em que não temos o compromisso de fazer algo bom-ótimo-maravilhoso, porque as expectativas são baixas, você é um amador ali, aliás, se você for um amador razoável: Nossa! Que show, você é quase um profissional!, segundo o próprio sistema do karaokê. Para além da diversão, sua auto-estima vai ficar de boa. Então, se você canta mal, se é possível mesmo medir isso, nessa circunstância, escolha seu hit e confie na galera, tudo vai dar certo, você vai se sentir amado ou amada, vai valer a pena viver naquela noite.