Eu queria falar sobre humor. Há dias penso em escrever uma crônica sobre humor. Mas anda difícil. Aqui em casa, o rodízio dos boletos não tem fim, vão vencendo dia 8, 10, 17, 20, 25 e a cada mês que passa, um a menos entra na mira do leitor de código de barras. Assim começam os atrasos e essas preocupações já nos tiram um pouco do riso da cara. Instabilidade. Sim. Todos estão com os dois pés atrás, ou quase todos, ou um pé. O fato é que confiante na economia ninguém está. Quem estiver, favor se acusar e dizer algo alentador.
Eu li muito sobre o PL da terceirização para realmente tentar entender o que acontece na prática com essas mudanças, porque como já perdi as esperanças de uma aposentadoria e a última vez que tive a carteira assinada foi em 2008, isso não me afeta diretamente, não agora. Já me afetou. Professor de língua estrangeira, revisor, tradutor sabe bem do que estou falando. Contudo, algumas coisas me chocam nessa história toda. Por exemplo, a aprovação de um texto de 1998 em 2017, como se o país já não fosse outro. No mínimo estranho. Mas a razão é pressa.
Na prática e na situação em que vivo – sou escritora e professora de inglês e literatura, não estou vinculada a nenhuma instituição no momento e meus serviços são os primeiros cortados no caso de necessidade de contenção de despesas – eu queria saber honestamente por que algumas pessoas defendem esse PL como se fosse concretamente bom para a economia em geral, digo, no bolso de todos? O que percebo é que será um tanto catastrófico, porque, se as pessoas já estão inseguras agora, imagina com a completa instabilidade que o PL gera. Como será? Eu não vou fazer nenhuma compra e me arriscar a fazer mais boletos que não passarão pela luz do código de barras. Só que para não fazer nenhum tipo de dívida, não compro. Menor poder de compra igual à falta de confiança de quem vende e produz. Menor produção igual a desemprego, desemprego ou desligamento da empresa, já que não haverá mais a noção de emprego, igual a menos dinheiro circulando e já viu. Nessa altura do ciclo, os meus serviços já foram dispensados, por exemplo. Isso tudo, aos meus olhos leigos de economia, mas doutos em levar a vida na ponta do lápis, não parece cheirar a coisa boa.
Se eu pudesse, montava num daqueles patos gigantes e ia embora daqui desse planeta. Mas não dá, estão todos murchos e furados.
De qualquer maneira, estar numa área ligada às humanas e às artes me deu muito trato com a economia criativa e este capital ninguém tira. Muito embora seu valor seja questionado e sua aceitação no mercado ande bem ruim. Porque, enfim, com bom ou mau humor a fala sempre é feita, o texto sempre é escrito e até mesmo no silêncio pio das preocupações rotineiras, um pensamento se cria e se alastra.
Resta apenas manter a coragem.