No final do ano passado, Stephen Hawking, o físico, escreveu um texto: "Este é o momento mais perigoso para o nosso planeta" (livre tradução para o original This is the most dangerous time for our planet). Comecei a ler esperando o anúncio de alguma catástrofe estelar, galáxias sendo engolidas. Não encontrei nada disso. De cara ele diz que não podemos continuar ignorando a desigualdade, porque agora temos os meios para destruir o mundo, mas não para escapar da destruição. Meu peito afundou como se um meteoro o tivesse atingido.
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Todo o nosso desenvolvimento tecnológico mundial, que se insere cada vez mais numa lógica exclusivamente econômica, ao invés de criar uma ponte ou aterrar o abismo social, vai apenas aumentar a desigualdade. Não sou eu que digo isso, é Stephen Hawking, o físico. Na verdade não é a Terra que será destruída. A Terra é inteligente, vai se regenerar. Nós nos destruiremos. Por ganância. E princípios distorcidos. Ele exemplifica a doença do nosso mundo por meio de um sintoma: Donald Trump, a pústula humana, epíteto meu. Ele representa o acúmulo da ganância e um modo de pensar burro exclusivista que acaba supurando a podridão inevitável de quem olha pra própria barriga, quando poderia olhar galáxias ou nossa imensidão humana.
Óbvio que a tecnologia tem seu lado bom e seu lado ruim. É que na bolha que vivemos, lapidada por algoritmos de redes sociais e repetidos acessos ao Google, a desigualdade se torna espetáculo. O que há de melhor na vida dos mais ricos está angustiantemente visível para qualquer pessoa. Tanto para nós que aqui estamos e por férias em lugares exóticos esperamos quanto para quem quer construir um muro, cavar um buraco pra explodir o pobre – vejam a incrível contemporaneidade de Justo Veríssimo, personagem cômico do Chico Anysio – quanto para quem mora na África-subsaariana (lá há mais pessoas com acesso a telefones e internet do que água e não sou eu quem diz). A desigualdade não é mais um número, ela é uma foto no Instagram.
No fim, o Stephen é otimista, acredita na humanidade. Eu, pessoalmente, acredito no poder transformador do ser humano. Meu tio me trouxe um pão ontem (meu tio nunca tinha me trazido um pão) e no meio de uma conversa ele me disse que o amor vence tudo (meu tio é um cara meio sério até). Eu li em outro artigo que somos feito da mesma poeira e que em algum momento da vida somos a mesma coisa delicada. Eu também li de um amigo (eu leio bastante), o Jeferson Tenório, escritor que eu respeito muito, que, no fim das contas, a delicadeza é que vai nos salvar.