Palavras estão impressas num imenso lençol ao vento e em centenas de cartas voando no ar. Faz total sentido que as primeiras cenas do documentário O Último Poema usem essas figuras de linguagem. Afinal, escrever é mesmo esse exercício corajoso de ideias jogadas ao incerto. Acontece que no caso do filme, com sessões neste sábado e domingo em Caxias, as palavras de autores bem diferentes acabaram por se encontrar e alinhavar uma amizade inesperada. Foram elas, as palavras, as responsáveis por aproximar uma professora do interior do Rio Grande do Sul e o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade.
O Último Poema conta a impressionante história de Helena Maria Balbinot, uma estudante
de Guaporé, que resolveu escrever para seu poeta preferido, Carlos Drummond de Andrade. O escritor que já estava em ascensão no Rio de Janeiro respondeu. E não somente à primeira carta, enviada em 1962, respondeu dezenas de outras e engatou com Helena uma amizade baseada na palavra escrita à caneta ou batida à máquina. A troca durou 24 anos e só foi suspensa por conta da morte do poeta, em 1987. Eram outros tempos da comunicação, onde a conversa demorava o tempo que os correios definiam, e as palavras eram escritas sem a pressa dos whatsapps de hoje.
O longa dirigido pela gaúcha Mirela Kruel usa a poesia como norte para contar a história da amiga guaporense de Drummond. O ator Rodrigo Fiatt interpreta o poeta em cenas construídas com muito cuidado, com fotografia exuberante. Ele lê algumas das cartas que Helena ainda guarda como tesouro dentro de pastas com folhas de plástico. A professora também ganha interpretação de duas atrizes, uma na fase criança (Ana Júlia Chiodi Alberti) e outra a fase adulta (Janaina Kremer). Mas é a própria Helena, personagem real de carne e osso, quem mais encanta no filme. O espectador de O Último Poema ganha a chance de poder adentrar na intimidade sensível dessa apaixonante mulher.
Apesar de nunca terem se conhecido pessoalmente - o encontro ficou no quase - Drummond costumava dizer (escrever) que ele e Helena tinham uma amizade antiga. Os fragmentos de textos trocados por eles e destacados pelo filme são realmente especiais. Há desde devaneios poéticos até relatos sobre a vida, confissões, ensinamentos. O diálogo entre eles cessou, mas o longa gaúcho acaba por torná-lo vivo e imortal. "Uma maneira de segurar o tempo", como diz a própria Helena apegada à sua impressionante coleção de cartas.
:: O filme será exibido neste sábado e domingo, às 18h, na Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312), com ingressos a R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos). A duração é de 70 minutos e a classificação de 10 anos
Cinema
Documentário "O Último Poema" ganha sessões em Caxias, sábado e domingo
Filme narra a amizade entre uma professora de Guaporé e o poeta Carlos Drummond de Andrade
Siliane Vieira
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