A correria e a gritaria presentes em qualquer recreio de escola ganham pausas. São momentos de pura concentração protagonizados por grupos - geralmente de garotos - entretidos em realizar manobras cheias de técnicas com seus ioiôs. A cena poderia estar em qualquer colégio de Caxias nos anos 1980, tempo da febre dos ioiôs da Coca-Cola (alguém aí lembra?), mas está acontecendo agora, em plena era dos celulares e jogos eletrônicos. Há tempos que a moda do brinquedo vai e volta, como que numa celebração ao próprio movimento proposto por sua engrenagem.
- Não sou muito de celular, gosto de videogame, mas agora prefiro o ioiô - diz Gabriel Bandeira, 13 anos, o mestre da cordinha no turno da tarde do Colégio Estadual Henrique Emílio Meyer.
O guri conta que começou a se interessar pelo brinquedo em 2013, porque viu um monte de garotos da escola se divertindo com o ioiô. Logo aprendeu as sete manobras básicas - entre elas estão dorminhoco, cachorrinho, meia volta, etc. Depois, começou a inventar seus próprios movimentos.
- O que mais gosto são as várias possibilidades de criar coisas novas _ diz Gabriel, que já venceu até campeonato em Caxias.
Carlos Eduardo Goldenberg, 11, conta que chegava a passar oito horas no computador, jogando e vendo vídeos. Agora, ele fica em frente à tela de uma a duas horas somente.
Na Escola Municipal Nova Esperança, que fica no Loteamento Vila Amélia, até a vice-diretora do turno da tarde fica encantada fitando os alunos e seus ioiôs.
- Acho muito saudável, estamos precisando resgatar brincadeiras assim, que estimulam a concentração, não geram conflito, competição, que lidam com o desenvolvimento das habilidades de cada um - opina Maria Ester Adami.
No caso de Caxias, a nova febre tem sido amparada pela visita de campeões e propagadores do esporte em escolas públicas. Três profissionais do ioiô estão na Serra desde setembro conversando com estudantes e tentando mostrar que a brincadeira também é esporte.
- Quando você se apresenta para crianças, mostrando um esporte que os pais deles praticavam anos atrás, eles ficam vidrados - conta o campeão paulista de ioiô em 2010, Robson Junior, 23 anos.
O grupo, formado ainda por outro paulista e um carioca, é patrocinado pela marca Ioiô Fênix, maior fabricante do brinquedo no Brasil. Eles viajam o país para estimular o contato das crianças.
- Vemos muitas crianças atualmente que parecem não querer ser crianças, mas quando se animam vendo manobras de ioiô, elas descobrem que a essência infantil ainda está dentro delas. Muitos se apegam com a gente, nos chamam de professor - festeja Robson, que começou a jogar ioiô com 17 anos.
Em Caxias, o grupo está organizando vários campeonatos paralelos. Como os que ocorrem no loteamento Vila Amélia todos os sábados (às 10h30min, em frente ao mercado Toniolli), frequentados pelos alunos da escola Nova Esperança. Outros bairros como Fátima, Santa Fé e Mariland também têm seus grupos fixos de jogadores. Aos sábados, ocorrem ainda encontros na Praça Dante, sempre às 11h30min. A final do campeonato será no dia 19, também na praça, quando será conhecido o melhor jogador de ioiô de Caxias.
Brincadeira
Em Caxias, ioiô volta a fazer sucesso entre estudantes
Visita de profissionais do esporte a escolas da cidade impulsionou a popularidade
Siliane Vieira
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