O título é Real Beleza, e no enredo há aspirantes a modelo e um fotógrafo de moda. Mas, longe do que possa parecer logo de cara, a beleza não é tratada com obviedades no novo filme de Jorge Furtado. O tema assume papel fundamental na história, e se projeta em diferentes e tocantes formatos. Ao espectador cabe o delicioso exercício de encontrar esses pequenos exemplares de sublimação envoltos num drama romântico competente.
Furtado lembra que Saneamento Básico (2007), seu último longa de ficção, terminava justamente com uma frase de Dostoiévski contendo a deixa perfeita para o filme que chega nesta quinta aos cinemas: "a beleza salvará o mundo". Longe da comédia, seu ambiente mais confortável, o diretor porto-alegrense busca agora novos elementos dramáticos para construir um filme calcado na maturidade dos diálogos - e dos silêncios.
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A história acompanha o fotógrafo João (Vladimir Brichta), que viaja ao Rio Grande do Sul buscando um novo rosto capaz de "salvar" sua carreira decadente como fotógrafo de moda. Ele encontra na adolescente Maria (vivida pela estreante Vitória Strada) o perfil de modelo que procurava, e logo se depara com a beleza inesperada da mãe da garota, Anita (Adriana Esteves, em delicada atuação). João aguarda o pai da menina, Pedro (Francisco Cuoco), voltar de viagem para tentar convencê-lo de que a carreira de modelo é a mais acertada para Maria. Enquanto espera, acaba se envolvendo com Anita.
O roteiro se aproxima um pouco de As Pontes de Madison (dirigido e estrelado por Clint Eastwood em 1995), por conta do fotógrafo da cidade grande que se encanta pela dona de casa e pelos cenários do interior. Mas Real Beleza transcende o foco da paixão fugaz entre um casal para criar um triângulo onde cabem temas mais universais (a certeza da finitude é apenas um deles). Furtado se afasta dos enredos espetaculares - como de O Homem que Copiava ou Saneamento Básico - para se debruçar sobre uma história aparentemente simples, com narrativa mais lenta e suave.
O roteiro envolve os personagens em amostras de beleza que vão da música (clássica) à literatura (poesia). Outra esperteza da história é colocar o personagem de Francisco Cuoco na condição de um homem praticamente cego. Enquanto João sobrevive justamente do olhar clínico de fotógrafo, Pedro está num processo inverso, de guardar apenas na memória toda as belezas que já viu ou sentiu. Adriana Esteves mostra interpretação competente, longe de qualquer exagero ou afetação. Há ainda um nu frontal completamente corajoso por parte dela e do filme.
Real Beleza usa a metáfora da busca pelo que é bonito - aliás, tão emergente nos nossos dias - para conduzir o espectador ao prazer da descoberta, seja passeando por uma foto de Cartier-Bresson ou por um poema de Fernando Pessoa.
Em Garibaldi: As cenas ambientadas na casa onde João e Anita vivem um rápido romance foram gravadas em Três Coroas. Já as sequências que mostram a cidade onde o fotógrafo está hospedado foram todas captadas em Garibaldi. A escola mostrada no filme também é na cidade. Ivane Favero, secretária de Turismo e presidente da film commission de Garibaldi, inclusive aparece numa das cenas de Maria em sala de aula. O público daqui também vai reconhecer a bela ponte de ferro que liga os munícipios de Canela e São Francisco de Paula, no Passo do Inferno. As gravações por aqui ocorreram em 2013.
Cinema
Novo filme de Jorge Furtado, "Real Beleza", estreia nesta quinta
Longa tem Francisco Cuoco, Vladimir Brichta e Adriana Esteves no elenco
Siliane Vieira
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