A Serra ainda guarda em sua paisagem cultural ofícios que resistem ao tempo. Residentes em diferentes localidades, esses artesãos desafiam os trâmites da globalização e fazem arte em oficinas centenárias. No interior de Antônio Prado, o marceneiro Antônio Golin, 70 anos, trabalha na marcenaria de 40 anos, localizada nos fundos da casa. Desde os 10 anos ele se dedica a fabricar lambrequins. Desenha na madeira as peças que adornam os casarios tombados pelo patrimônio artístico no centro do município e outras edificações da região.
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Marca arquitetônica da Serra e de seus imigrantes, os lambrequins são preciosidades que ele aprendeu a fazer com o pai, que aprendeu a fazer com o nono. Bem perto da marcenaria de Golin, a ferraria dos Marsílio é outro reduto de resistência da manufatura em madeira.
Ali, Luiz Marsílio, 61 anos, recorta balaústres. As peças servem para fazer cercas como a que mantém em frente à casa. Os moldes para as criações têm mais de 90 anos. Também foram usados pelo pai, pelo nono. São recortes da memória cultural da Serra que resistem ao tempo.
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No interior de Bento Gonçalves, nos Caminhos de Pedra, a produção de ladrilhos hidráulicos foi acolhida por Sergio Viecili há dez anos, depois da aposentadoria como pedreiro. Ele molda formas e cores em peças usadas em igrejas, casas e hotéis. Seu trabalho também foi parar no Paraná e São Paulo. Os principais clientes são arquitetos e designers.
- Quem entende de arte gosta dos ladrilhos - diz o ladrilheiro.
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Outro trabalho que exige dedicação e manufatura é o do tanoeiro Alfeu Erthal, que trabalha desde 1967 na Barris Zanetti, em Tamandaré, interior de Garibaldi. Para fazer cada barril que pesa em torno de 17 quilos ele trabalha em mais de 10 fases, durante 10 dias. Uma das pipas que ele fez já serviu até para Vera Fischer tomar banho numa cena da novela O Rei do Gado. Mas o mais importante é fabricar os utensílios para guardar vinho, uísque e cachaça.
- É uma coisa difícil de fazer, tem que se dedicar muito, é um serviço muito delicado. Se tivesse alguém para aprender, eu ensinaria de bom gosto _ comenta o tanoeiro, preocupado com o futuro da profissão.
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Na Fazenda Quero Quero, em Lajeado Grande, interior de São Francisco de Paula, Cleunice Vieira Cardoso, 46 anos, produz lã artesanal. Depois da tosquia nas ovelhas da propriedade, o material é lavado e cardado. Aí vai para a roca, de onde sai o fio, e o tear, onde fabrica mantas, ponchos, coletes. Os produtos são comercializados pela região com a etiqueta "feito à mão", cada vez mais desejada num mundo invadido pelos produtos globalizados e impessoais. São figuras assim que mantém, por resistência e amor ao trabalho, os ofícios manuais da Serra.
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