Basta andar com um olhar mais atento pelas duas quadras da Avenida Júlio de Castilhos entre as ruas Dr. Montaury e Garibaldi para perceber. Três antigos prédios do trecho vem recebendo intervenções que buscam não apenas sediar novos empreendimentos, mas também dialogar com um crescente movimento de recuperação e revalorização do centro histórico. São eles o Edifício Geremia, o casarão da família Sanvitto (abordado na coluna desta segunda) e o sobrado de número 1.927, ao lado das Lojas Pompéia, quase na esquina da Júlio com a Visconde de Pelotas.
Era lá que funcionava a lendária Loja Paris, uma das casas de comércio destacadas no álbum Caxias do Sul - A Metrópole do Vinho – lançado em 1957 pelo jornalista Duminiense Paranhos Antunes, com vistas a divulgar a cidade e a Festa da Uva do ano seguinte. Tanto que o slogan não perdia tempo na hora de seduzir o consumidor: "a mais moderna e completa loja da cidade em artigos para homens e senhoras, com um variado sortimento de fazendas em geral".
Conforme o texto, o negócio foi fundado ainda em 1927. Trinta anos depois, em 1957, "suas novas e modernas instalações, em estilo funcional, agradam o visitante à primeira vista, que pode ali adquirir o que há de melhor e mais moderno em sedas, casacos de peles para senhoras, artigos em geral para homens e tudo o mais que se precisar para o vestuário masculino e feminino".
Reproduzido do livro, o "clichê" abaixo traz o interior da moderna loja em 1957, com o sócio-gerente João Cecconello e seus auxiliares junto às prateleiras "forradas" de tecidos. Na sequência, um raro anúncio da loja, veiculado no mensário Jornal da Mocidade, em abril de 1957.
Os diretores
Nos anos 1950 e 1960, a loja teve como sócios os senhores João Cecconello e Nelson Simonetto. João era parente do comerciante Luiz Cecconello, que a poucos metros dali mantinha, em sociedade com o empresário Ary De Carli, outro estabelecimento bastante lembrado pelos clientes do Centro: a antiga Loja Renner.
Era o tempo em que o trecho da Júlio entre a Dr. Montaury e a Visconde de Pelotas abrigava ainda ícones como o Studio Geremia (de onde foi captada a foto que abre a matéria), a Drogaria Americana, a Mercearia Caxiense, a Livraria Saldanha, a Joalheria Beretta, a Óptica Martinato, as Lojas Pernambucanas, o Restaurante Quitandinha, a Casa Almeida, a Farmácia D’Arrigo, a Óptica Caxiense e a lendária Vila Braghirolli, onde moravam as irmãs Dyna e Sylvia.
O local
Após o fechamento, o espaço sediou vários outros comércios e, mais recentemente, uma farmácia da rede Mais Econômica.
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Cara nova
Outro sobrado recentemente recuperado foi o antigo casarão de família Parolini Pezzi, datado dos 1920 e quase ao lado da antiga Loja Paris. O prédio de dois pavimentos, que hoje abriga uma loja de moda jovem, recebeu pintura, novas janelas e uma varanda em ferro aludindo à construção original, além de iluminação noturna.
Que exemplos como esse se multipliquem...
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