
Gabriela Suthoff sempre teve um olhar atento para os processos que envolvem o tempo, a paciência e a conexão com as raízes. A filha de Gilmar Inácio Suthoff e Isolde Maria Link Suthoff encontrou no Desvio Blauth, em Farroupilha, onde reside há oito anos, o cenário perfeito para dar forma ao seu projeto de vida: unir o vinho, a gastronomia e a história em um único caminho. Com formação em Pedagogia e História, sua jornada se iniciou no universo da educação, mas foi entre os parreirais que descobriu sua vocação.
— Minha transição para o vinho e a gastronomia foi um processo gradual, mas marcante. Enquanto trabalhava como pedagoga e historiadora, sempre mantive um forte vínculo com a terra e os processos artesanais. O momento decisivo se deu quando engravidei em 2019 e percebi que poderia fazer mais. Foi como se todas as peças do quebra-cabeça tivessem se encaixado naturalmente — discorre a mãe de Bianca Elizabeth Suthoff Lunkes, 19 anos, e de Rafael Thorsten Suthoff Haupt, hoje com quatro, sobre a mudança que aconteceu com intensidade.
Atualmente, Gabriela aplica todos esses aprendizados no seu fazer diário. — A pedagogia me ensinou a olhar para os processos com serenidade, algo essencial tanto na produção de vinhos naturais quanto na cozinha. Já a pesquisa histórica me deu ferramentas para resgatar saberes antigos — fala.
Na Montaneus, sua microvinícola e restaurante, optou pelo caminho artesanal e biodinâmico, um processo que reflete seus valores de preservação da natureza e pelos ciclos da terra. — É um aprendizado constante — diz — Adaptá-los à nossa realidade foi um desafio. O maior deles? Educar o público. Muitas pessoas ainda não estão familiarizadas com a vinificação natural e os biodinâmicos, mas, aos poucos, mostramos que essa é uma forma de produzir que faz sentido para o planeta e para o paladar.
O terroir da Serra Gaúcha e dos Campos de Cima da Serra também desempenha um papel fundamental na identidade da Montaneus. — A história da região se reflete nas uvas que escolhemos cultivar, nas técnicas que resgatamos e até mesmo quanto à escolha de ingredientes tradicionais, como o pinhão, que já era fermentado pelos povos originários. Cada garrafa conta um pouco sobre o espaço e as pessoas que o cultivam há gerações.
A expansão para a gastronomia foi um passo natural. — A ideia de integrar um restaurante à vinícola surgiu da vontade de criar uma experiência completa — explica — Quero que as pessoas não apenas degustem os vinhos, mas entendam como eles se conectam com a cultura local.

Com passagens por restaurantes renomados, como D.O.M. e Dalva e Dito, de Alex Atala, Gabriela teve a oportunidade de mergulhar na gastronomia brasileira sob a ótica de chefs renomados. — O que mais me marcou foi a valorização da biodiversidade brasileira e o respeito com os ingredientes — diz.
O conceito do menu gira em torno da ideia de "raízes" – tanto no sentido figurado, de conexão com as origens, quanto no literal, com ingredientes como mandioca, pinhão e ervas nativas. Além disso, técnicas de fermentação e conservação resgatam métodos ancestrais e garantem uma cozinha autêntica e inovadora.
— A harmonização entre comida e vinho é um diálogo — reflete — Busco criar pratos que complementam e realçam as características dos nossos vinhos, mas sem perder a identidade própria da cozinha — complementa.
Para aqueles que desejam transformar desejo em profissão, Gabriela tem um conselho valioso: Não tenha medo de seguir seu coração, mas faça isso com planejamento e dedicação. A paixão é o combustível, mas é o trabalho árduo e a persistência que te levarão adiante. Esteja aberto a aprender e não tenha pressa, os melhores frutos são colhidos com equilíbrio e cuidado.

Saca-rolhas
- Gostaria de ter sabido antes... que o caminho não precisa ser linear para ser significativo.
- Um aprendizado valioso: não dá para apressar a natureza, a magia acontece em seu próprio tempo.
- Um ingrediente que todos devem experimentar: a mandioca. Ela é um símbolo da cultura brasileira, versátil e cheia de histórias.
- Meu lugar preferido é... minha cabana ao entardecer, junto com meu filho. É o lugar e o momento onde tudo faz sentido.
- Livro de cabeceira: Mandioca: manihot utilissima pohl, de Alex Atala.