O índice de abstenção na eleição em primeiro turno em Caxias do Sul é assombroso. Ficou em 25,13% do eleitorado, o que corresponde a 87.257 eleitores que não foram votar. Foi maior do que no ano da pandemia quando a abstenção chegou a 24,79%. Já a eleição de 2016 ficou na média histórica, com índice de 8,87%. Ou seja, a abstenção de agora triplicou a média histórica. Abstenção significa que os eleitores não se dignaram a sair de casa para exercer o direito de escolher o melhor para a cidade. Não se sentiram motivados a isso.
É, antes de tudo, triste que uma eleição não desperte interesse para um exército desse tamanho de cidadãos e cidadãs. É preocupante, e exige diagnóstico. A democracia tem de pulsar, aquela vontade de participar para ajudar a melhorar a realidade ao redor. Mas não pulsou em uma fatia de um quarto do eleitorado.
Essa fatia é maior ainda se forem adicionados os votos em branco (12.407, ou 4,77% dos eleitores que compareceram às urnas) e nulos (12.867, ou 4,95% dos votos totais). São eleitores a quem as alternativas colocadas não atraíram. Somados, tem-se 112.528 eleitores que deixaram de votar, de um eleitorado total de 347 mil aptos ao voto. Corresponde ao assombroso índice de 32,4% do eleitorado que não quis escolher um candidato ou candidata para prefeito em Caxias É um em cada três eleitores.
Os partidos precisam fazer o diagnóstico sobre por que o estilo tradicional de fazer política atrai cada vez menos eleitores. Desde 2016, é perceptível de forma marcante que parte do eleitorado recorre aos chamados “outsiders”, candidatos que renegam o universo da política e apostam na antipolítica, outro sintoma da degradação da política tradicional. E causa perplexidade que uma série de partidos segue recorrendo ao formato tradicional de fazer política. Escolhem palavras que pouco significam para boa parte dos eleitores, insistem em pregar para convertidos, falhando na comunicação.
A forma é simplesmente a forma, importando mais o conteúdo, mas a forma e o meio podem atualizar a comunicação, aproximando a política das pessoas. É urgente revisar formas de comunicar e obter engajamento do eleitor e da eleitora, sabendo falar a ele do jeito que ele quer ouvir.
O alarmante índice da abstenção caxiense transmitiu um recado sonoro, para quem quiser e estiver interessado em ouvir.
Votação de nomes históricos
Há outros sinais de esgotamento da política tradicional. Um deles é a votação de candidatos que exercem a política nos moldes da política tradicional. Tomem-se os exemplos de dois históricos do cenário político caxiense: o ex-vereador e ex-vice-prefeito Elói Frizzo (PSB), candidato a vereador agora, fez 1.136 votos. O ex-vereador e ex-deputado federal Mauro Pereira (MDB), que também concorreu a vereador, fez 1.494 votos. Já o vereador mais votado, Hiago Morandi (PL), que não faz política da forma tradicional, obteve 11.304 votos.