Às 14h17min desta terça-feira, o voto do vereador Maurício Scalco (Novo), na votação da quarta de quatro denúncias analisadas pela Comissão Processante, consumava a rejeição da Câmara de Caxias do Sul à cassação do vereador Sandro Fantinel (sem partido). Em duas das denúncias, a comissão recomendava a cassação, em outras duas, o arquivamento. O voto de Scalco foi o oitavo voto contrário à segunda recomendação da Comissão Processante pela cassação do parlamentar – a primeira já havia sido arquivada. Fantinel precisava de oito votos para escapar da cassação, e teve nove.
A rejeição da cassação foi o desfecho para a fala xenofóbica do vereador Fantinel na tribuna da Câmara na sessão de 28 de fevereiro, que adquiriu enorme repercussão e submeteu Caxias do Sul a uma exposição nacional. Rejeitar a cassação de um parlamentar que falou o que falou dos trabalhadores baianos no âmbito de uma operação de combate ao trabalho em condições análogas à escravidão constitui-se em nova exposição para a cidade, uma reincidência grave.
Eram necessários oito votos, Fantinel reuniu nove, e a argumentação recorrente dos vereadores que rejeitaram a cassação, bem como da defesa do vereador, foi que houve uma “fala infeliz”. Também foram lembrados os bons antecedentes de Fantinel, o projeto social que ele desenvolve, o Agrofraterno, o fato de que pediu desculpas ao povo baiano, a lembrança de que todos erram. Essas lembranças são válidas, porém, não deviam ser preponderantes na análise do que estava em discussão, visto que a quebra de decoro presente nas declarações de Fantinel é indesmentível, e era ela que estava sendo analisada, à luz do Código de Ética do Legislativo, de toda a repercussão nacional havida e do desrespeito aos trabalhadores baianos, a quem a Câmara devia satisfações. Esse era o contexto da análise dos fatos, que, no entanto, derivou para o reconhecimento do erro – de resto necessário – e para os bons antecedentes do vereador denunciado.
A satisfação dada pela Câmara de Vereadores foi a absolvição política de Fantinel. Ela sintetiza e traduz o que a cidade tem a dizer ao país, o pensamento da cidade sobre a fala de Fantinel.
Na prática, assinou embaixo.
Os nove vereadores
Nove vereadores votaram contra a cassação de Fantinel depois de ele ter dito o que disse aos trabalhadores baianos. São eles Adriano Bressan (PTB), Alexandre Bortoluz (PP), Clovis Xuxa (PTB), Elisandro Fiuza (Republicanos), Gladis Frizzo (MDB), Maurício Scalco (Novo), Olmir Cadore (PSDB), Ricardo Daneluz (sem partido) e Velocino Uez (PTB) Na prática, eles chancelaram o que disse Fantinel. Embora todos tenham feito a ressalva de que o vereador errou e falou o que não devia, sinalizaram que novas falas como essa não receberão a consequência política devida. É péssimo. Deram a senha para novas aventuras retóricas e preconceitos, expuseram mais um pouco a cidade e não ofereceram aos baianos o desagravo político à fala terrível, que teve a Câmara de Caxias como cenário.