A secretária da Saúde, Daniele Meneguzzi fez um desabafo comovente e indignado em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, na Gaúcha Serra, nesta quinta-feira (18/11). Ao ser questionada sobre o que Caxias do Sul está fazendo para acelerar a vacinação, ela relatou:
– Esse é um grande desafio. As vacinas têm sido ofertadas das mais diversas formas. Desde agosto, estamos ofertando pontos extras, em shopping, na Praça Dante, à noite, nas empresas, abrindo também em muitos sábados.
A partir daí, o seu relato sobre o desinteresse de parte da população pela vacina deve provocar profunda reflexão (veja o depoimento abaixo). Muito se tolera quem não quer se vacinar, para não enveredar por uma polêmica sem fim, e não falta quem argumente com a liberdade individual. Porém, vai além disso. O problema segue sendo que não se vacinar produz risco e é um desrespeito à saúde coletiva. Sendo assim, é difícil encontrar amparo lógico para essa negativa, pois há prejuízo à condição sanitária geral da cidade, à demanda por atendimento médico e hospitalar e à retomada da atividade econômica.
Mesmo assim, a secretária se revela espantada com o cenário de desinteresse pela vacina que tem encontrado. Caxias do Sul conta com uma cobertura vacinal completa de 61,3% (dado das 19h de quinta-feira). Especialistas consideram entre 70% e 80% uma meta desejável, e o governo do Estado definiu que o passaporte sanitário será liberado em municípios com 90% da população adulta (a partir dos 18 anos) com a cobertura vacinal completa.
"Ainda é difícil convencer a população a se vacinar"
“O que a gente observa, infelizmente com muita tristeza e preocupação, é a falta de interesse das pessoas na busca pela vacina. Muito embora existam todas essas possibilidades, a gente não tem a procura esperada por parte da população. As pessoas estão deixando para se vacinar quando for conveniente, e agora com a exigência do passaporte vacinal, isso se mostrou de uma forma ainda mais intensa. Elas estão indo se vacinar porque estão sendo obrigadas, porque realmente vão ter problemas nas suas empresas, porque as empresas, sim, estão exigindo vacinação, não vão conseguir entrar em bares, restaurantes, em festas, e pra isso precisam comprovar a vacinação. Só que o que essas pessoas muitas vezes esquecem é que protelar a vacinação traz um prejuízo imensurável, inclusive com aumento, pequeno sim, é verdade, do número de óbitos por covid. Esta semana mesmo, nós tivemos óbitos de pai e filho de pessoas não vacinadas. É algo que é inadmissível depois de todo esforço, depois de todo trabalho, depois de todo investimento que o governo federal, que o Estado, que os nossos servidores municipais, de forma heroica, nós estamos totalmente extrapolados, as pessoas altamente empenhadas em ofertar a vacina, e o que a gente vê é uma população que resiste, uma população que protela. Estamos planejando outras estratégias, além daquelas como ir a escolas. Se eu falar para vocês que tivemos escolas que nós aplicamos apenas uma dose de vacina, é algo que se precisa refletir: até que ponto o poder público pode, deve e consegue interferir no julgamento das pessoas, na importância com relação a algo que é óbvio que nem precisaria mais ser dito, afinal de contas, nós já tivemos mais de 1.400 óbitos na nossa cidade (são 1.422). Nós ficamos praticamente um ano e meio parados com nossas atividades econômicas estanqueadas e ainda é difícil convencer a população a se vacinar. É nosso papel estar buscando novas alternativas, especialmente de sensibilização a essas pessoas.” Daniele Meneguzzi, secretária da Saúde