No que me diz respeito, toda minha educação formal deu-se em escolas e instituições públicas. Do antigo primário ao ensino superior. Foram escolas estaduais, essas tão desprezadas hoje em dia. Desprezadas, sim. Não vamos usar meias palavras. Desprezadas por governos e pela sociedade.
Reverencio escolas públicas, o ensino público – e escolas estaduais em particular. Há um sentimento de gratidão a elas. Foram quatro anos no Grupo Escolar Demétrio Ribeiro, mais sete no Instituto de Educação Osvaldo Aranha. Escolas respeitáveis e respeitadas em Alegrete. Depois, veio a universidade federal, em Santa Maria, com o aparato e a estrutura pública para o ensino superior que já driblavam, desde então, a redução gradativa de recursos. Tratava-se de uma universidade federal clássica, dessas maltratadas e quase inviabilizadas por contingenciamentos anunciados com algum orgulho por parte do governo federal. “Vamos acabar com a balbúrdia”, foi o argumento ministerial. Tristeza.
Lembro-me dos corredores, das salas de aula, da estrutura física das escolas lá do início, que retratava elementos arquitetônicos e espaciais indicativos de uma deferência da sociedade à escola pública. Um quarteirão inteiro só de escola no Osvaldo Aranha. Lembro dos professores, das equipes diretivas, da diretora Ana, que personificava a figura de uma diretora de escola. O corpo do magistério assumia certo distanciamento, certa postura, que era menos um aspecto negativo, de ser menos acessível, e mais uma valorização da categoria – o professor, a professora, alçados à condição que a função merece. Eram reconhecidos. Àquela época, Anos 60 e 70, ainda era possível distinguir resquícios de valorização e respeito à escola pública e ao professor. Talvez tenha convivido com o começo do declínio.
E esse declínio veio vertiginoso, até chegarmos ao “espetáculo” mostrado em vídeo gravado por um aluno em uma escola estadual de Carapicuíba, interior de São Paulo: alunos em fúria, praticando vandalismo dentro da sala de aula, classes voando, sem nenhum respeito pela escola e pela professora. Espetáculo deprimente, triste, nojento por seu simbolismo. Decorre da desvalorização contínua e prolongada da escola pública e do professor. Precisa reempoderar escola e professor, que hoje podem pouco. Não significa conferir poder imperial. Reempoderar é no sentido de a sociedade valorizar e reconhecer, como há muito não faz. Criou-se uma cultura entre muitos pais, de peitar professor. E o poder público não oferece valorização e estrutura. Valorização é salário mesmo, para início de conversa.
Aqui em Caxias, anos atrás teve ocupação de escola por melhores condições. Não houve apoio da sociedade. Assim temos tratado a educação. Alunos em fúria é um degrau a mais que descemos. Talvez chame atenção para onde já chegamos. Ou não.