Ano após ano, temos nos especializado em tornar a cidade mais sem graça. Temos nos esmerado em enfeiar a cidade. Isso mesmo, incansavelmente, sem tréguas: tornar a cidade mais desagradável e mais hostil a seus moradores. De vez em quando, alguma providência surge, como que para aliviar consciências de que alguma coisa se faz. Mas não temos ideias e não investimos para evitar a degradação da cidade, para qualificar os espaços comuns. Isso passa pela área ambiental, também pela sociocultural. Neste contexto urbano, surge a obstinação pela retirada das bancas.
Por aqui, cortam-se árvores desde sempre. Não faltará quem diga que é cultural, parte da identidade regional. Precisamos tratar bem o meio ambiente, mas não aprendemos. Estão aí os temporais no Rio, o granizo de agora. E seguimos cortando árvores. Nos casos mais recentes, 7 foram cortadas em frente a uma escola no Santa Lúcia, dois jacarandás na Visconde, outros dois e um ligustro no alto da Pinheiro, com a Humberto de Campos, mais um jacarandá na Carlos Bianchini, mais dois ligustros, na Bento com Guia Lopes. Sabemos que árvores caem em vendavais, como galhos caíram no sábado, e há riscos que devem ser ambientalmente administrados. Em geral, são alegadas razões fitossanitárias, de saúde das árvores, para os cortes. Mas se os seres humanos podem viver até o fim de seus ciclos...
Menos árvores, ruas mais secas e peladas, atmosfera mais aquecida, mais temporais, menos qualidade de vida. Mas seguimos, dia após dia, na nossa sanha de cortar. A cidade tem uma vocação incontida para cortar árvores. Elegemos pombos, que encantam em outras cidades mundo afora, como vilões. Não se desconhece a sujeira produzida por eles, mas deve haver o manejo adequado, não estigmatizar nem pretender retirá-los do cenário. Fechamos nossos arroios, que, de outro jeito, se bem cuidados, embelezariam a cidade e a tornariam menos degradada, com mais espaços de contato com os moradores. Rios abertos e desenterrados são tendência urbana moderna. Agora no domingo, o Fantástico mostrou campos de futebol verdinhos em Hong Kong sobre tanques de armazenamento de água. Observem uma área de contenção de água na Visconde, perto do INSS, largada à própria sorte, com uma laje de concreto em cima. Nada será feito ali, por certo, décadas a fio, e ficará assim, uma área que poderia, com boas ideias, ter outra destinação, para convivência e lazer.
Para a Avenida Júlio e a Praça da Bandeira, faltam atrativos, cuidado ou esmero. Retirar bancas do cotidiano dos caxienses é só a maldade mais recente. Somos incansáveis em maltratar e degradar a cidade. Isso tem preço, claro que tem.