Tenho 29 anos de Caxias do Sul. Esse tempo todo, nenhum caso foi tão comovente como o da menina Naiara. Tão triste e tão dolorido em seu desfecho, mas tão marcante por obra e graça de Naiara, sua alegria, sua expressividade, seu sorriso espontâneo registrados pelas câmeras que flagraram a última caminhada sua rumo à escola, a cortar decidida as ruas do Monte Carmelo, do Esplanada, mas sem chegar ao São Caetano.
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Caminhada presta homenagem a Naiara
As últimas imagens traduzem Naiara. Sem desviar-se, a não ser quando a realidade colocou em seu caminho uma armadilha traiçoeira, seguia obstinada para a escola por um caminho de três quilômetros de lombas, desproporcional ao seu corpo frágil, um caminho de ruas menos movimentadas e de outra que ela atravessava de peito aberto enfrentando o trânsito, do alto de seus 7 anos: a Júlio Calegari, onde lhe foi preparada uma emboscada.
Tanta gente desvia da escola ao menor obstáculo. Você não, Naiara. Seguia firme. No caminho, encontrou coleguinhas e sorriu alegre para elas, que embarcaram na van escolar, e você, sem entender muito por que elas iam de van e você não tinha esse conforto, você não vacilou e seguiu em frente. Talvez até se voltasse para casa ali, naquele momento, poderia estar viva hoje aqui, tendo em vista o que veio logo depois. Mas foi esse o seu jeito, abençoada Naiara, de marcar sua passagem por aqui.
Sua trajetória entre nós foi curta, mas você marcou sua passagem por percorrer seu caminho com persistência, vontade de seguir em frente e aquele sorriso imortalizado nas poucas imagens suas em que colocamos os olhos. Você fez tudo isso que, muitas vezes na vida, renegamos ou alegamos cansaço para fechar a cara.
Você foi um anjo que passou por aqui. Agora tornou-se uma estrela no céu da cidade. Será inesquecível.
Obrigado, Naiara. Para sempre.
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