O noticiário, no mais das vezes, vem carregado de notícias pesadas. Nenhuma surpresa nisso, ainda que muita gente torça o nariz para tanta notícia chata na hora do almoço ou do jantar. É da regra do jogo. O avião que chega tranquilo a seu destino não é notícia. Notícia é o avião que cai. Mais do que gosto pelo sensacionalismo, é serviço, é utilidade pública, é promover o debate e lançar luzes para melhorar a realidade, para que a tragédia, a corrupção, o alagamento, o acidente, o latrocínio não voltem a se repetir. Quem dera!
A tormenta que se abateu sobre São Francisco de Paula é uma notícia triste. Os meteorologistas se dividem entre se foi um tornado ou uma microexplosão. A discussão técnica tem sua importância para identificação correta de fenômenos e a antecipação a eles. Mas, na prática, não faz diferença sobre o que aconteceu: foi uma tormenta, a palavra que ouvia quando eu era pequeno, e causou destruição.
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Mas nessa leva de notícias tristes dos últimos dias, uma comoveu-me em especial, por seu aspecto emblemático e seus significados: a morte de uma adolescente de 14 anos por estrangulamento dentro de uma escola estadual em Cachoeirinha. Primeiro, que é uma vida adolescente que se perde. Segundo, o crime foi dentro de uma escola. Terceiro, a investigação policial está identificando que houve uma briga e que o envolvimento na morte recai sobre três colegas: uma de 12 anos e outras duas de 13. Quarto, ainda baseado na investigação: essas meninas não se mostram arrependidas.
Olhando assim, em um exame imediato, parece que perdemos o chão do futuro. O chão do presente, este se esfarela sob nossos pés. Diante de um enredo assim, resta cogitar o que nos aguarda aí na frente. Uma reflexão derivada deste episódio é: em que ambiente vivem estas meninas, capaz de fazê-las encarar com naturalidade semelhante barbaridade? Este é um ambiente comum em nosso cotidiano, que se alimenta da agressividade, que não tolera, que arma a violência desde quase a infância, e agora se vê, desde a adolescência.
Esse triste e emblemático episódio deixa um recado: a violência por todos os lados tem o dedo da falta de policiamento, mas conta, decisivamente, com a mão de quem constrói ambientes de conflito em casa, na rua. A escola não tem responsabilidade neste caso. A morte da adolescente de 14 anos está rigorosamente na conta do ambiente que influenciou e influencia as outras três meninas envolvidas. E o pior é que seguimos ladeira abaixo. A agressividade só se vê aumentar.Os sinais de tormenta persistem inconfundíveis no horizonte.
Opinião
Ciro Fabres: sinais de tormenta
Nessa leva de notícias tristes dos últimos dias, uma comoveu-me em especial
Ciro Fabres
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