O próprio Judiciário, em especial a Justiça do Trabalho, organiza com frequência os chamados dias de conciliação, quando ocorrem mutirões para a homologação de acordos entre as partes de um processo judicial. É consenso de que acordos são a melhor saída – sem atropelar o legislado. É inteligente e prudente. Elimina focos de conflito e a vida segue, com os problemas e as prioridades de cada um, com energia direcionada para questões mais prementes. Bom para todos. A judicialização, a busca da Justiça para dirimir conflitos, é legítima, mas não aconselhável.
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Nossa turbulenta e frenética sociedade, com tantos problemas, e de todo tipo, do que menos precisa é de geração de conflitos. Em especial, de dar contornos ainda mais agudos a eles no momento de encontrar soluções para a superação de impasses. A sociedade precisa de serenidade, de bons encaminhamentos. Conflitos, por certo, não são necessariamente ruins. É importante quando eles ficam explicitados, tornam-se claros, com civilidade. Nenhum fim de mundo. Na vida, há conflitos de interesse, e eles são legítimos. Evidenciar conflitos, destampá-los, também pode cutucar zonas de conforto, em especial diante de situações mal resolvidas e que causam prejuízos ou até injustiças. Pode ser útil, mas se recomenda habilidade para manejá-los e gerenciá-los. Conflitos mal encaminhados acabam em desavenças irreconciliáveis, mortes e até guerras. Todo cuidado, pois.
O que não pode é haver foco gerador de conflito no momento de buscarem-se as soluções. Aí pode ser irreversível. Aí é exacerbar o conflito, distanciar-se da saída. Buscar direto a judicialização é um encaminhamento quase fatal. Neste momento da busca por soluções, a hora é de promover convergências. Um bom líder precisa ser menos foco gerador de conflito e muito mais promotor de convergências e entendimentos. Precisa lançar pontes, aproximar as partes, em benefício da população.
As ruas estavam sem ônibus na segunda-feira. Menos pesadas, menos volumosas. Corredores vazios, as paradas sem aquele frenesi cotidiano. Uma Caxias como nunca se viu. Aquilo causou certo estranhamento. Faltava aquele frenesi que é sinal de vida, de movimento. Hora de buscar soluções para a volta à normalidade, portanto. Mas então, o que se verifica é o acirramento da judicialização, das manifestações e das atitudes. Claro que, assim, não se chegará a lugar nenhum, a não ser de forma traumática, sabe-se lá em quanto tempo e depois de muito desgaste.
Um bom gestor evita a judicialização. Apostar em conflitos como método é um risco enorme. O momento é de conduzir a travessia possível, até a hora de se discutir a concessão do transporte. Para evitar prejuízo ainda maior à população, a esta altura, já irremediavelmente prejudicada.
Opinião
Ciro Fabres: gestão de conflitos
Um bom líder precisa ser menos foco gerador de conflito e muito mais promotor de convergências
Ciro Fabres
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