Parecia uma conversa entre dois conhecidos no jardim do Lar. Isso porque as palavras fluem tranquilas e articuladas da boca de Jari Velasco Molina, o Seu Molina, um homem acima de tudo de bem com a vida. Essa característica fica evidente quando discorre sobre a frase que quer escrita "com giz" em sua lápide:

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- O velho Molina está aqui. Mas não queria.

Seu Molina tem 98 anos. Fará 99 em novembro. No Lar há dois anos e meio, valoriza o trabalho da diretora Lea Signori e das servidoras da casa. Está em uma cadeira de rodas, porque a cartilagem do joelho desgastou. Afora isso, não tem problemas de saúde. Diz que está bem porque nunca bebeu cachaça.
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- Não gosto do cheiro do álcool.

Vaidoso, acorda e logo coloca o chapéu:

- Ainda posso beijar na mão de uma mulher - garante Seu Molina.

Vê e ouve com tranquilidade, suas ideias têm coerência e expressam sua forma de ver o mundo. Só não suporta adulação.

- Eu não me emburro com ninguém - diz.

Descendente de espanhóis, nasceu em Bagé e foi com 40 dias para São Gabriel. Depois, foi morar em Cachoeira do Sul ao lado da mulher, companheira por 59 anos.

- Ela foi minha maior perda - revela.

Vieram para Caxias "para ganhar a vida", mas conta que nunca ficou rico. Trabalhou no escritório do Ministério dos Transportes, mas o que gosta mesmo é de botar a mão na terra. Tiveram seis filhos. Entre netos e bisnetos, são 19. A eles, ensinou respeito e transmitiu-lhes a lição de que a vida deve ser valorizada. Como Seu Molina faz todo dia, ainda hoje.

* Ciro Fabres é colunista diário do Pioneiro