Dois enólogos resolveram criar uma nova vinícola. A Monte Chiaro Vinhos Finos abriu a operação em Bento Gonçalves neste início de ano. O negócio tem três meses de atividade, quase a idade do filho do casal Bruna Dachery, 33 anos, e Lucas Dal Magro, 32, que também motivou que os professores universitários resolvessem empreender. O pequeno Vicente, inclusive, inspira o nome do corte de merlot e rebo, o Tosetto, o vinho tinto mais jovem da linha criada pelos pesquisadores que gostam de elaborar bebidas que lembram a Itália, não só inspirados pela paisagem do Vale dos Vinhedos e uvas italianas que utilizam, mas pela potência de seus vinhos e pela arte de seus rótulos.
Bruna e Lucas se conhecem desde que foram colegas no Ensino Médio. Fizeram juntos o curso de enologia. E trilharam seus próprios caminhos na área de vinhos, os quais os levaram a se tornarem professores universitários. Embora seguissem caminhos muitos parecidos, eles só voltaram a se cruzar há poucos anos, quando os dois cursaram, ao mesmo tempo, o doutorado do programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFRGS.
– Os nossos projetos de pesquisa eram semelhantes e isso acabou nos aproximando ainda mais. O meu era sobre o processo de elaboração de espumantes e o dele era suco. Começamos o nosso relacionamento em 2019, em 2020 tivemos a ideia da Monte Chiaro, em 2022 nasceu o Vicente, e agora abrimos a vinícola – retrocede Bruna.
A história do lugar onde inauguraram a Monte Chiaro é ainda mais antiga. A moderna construção foi erguida em uma encosta na Capela das Neves, onde a família de Lucas sempre residiu e fez os próprios vinhos para consumo familiar. O nonno Valentim, 84 anos, inclusive zela o sono do bisneto quando os pais vão recepcionar os turistas no varejo. Ele inspira o vinho ícone da vinícola, que remete a um entardecer e ao retorno de um homem para casa ao final de sua jornada de trabalho. E a caligrafia de Valentim assina o nome do vinho: Ocaso.
Mas o produto que deu origem ao portfólio, que hoje chega a 10 rótulos e 10 mil garrafas por ano, tem assinatura feminina. Foi Bruna quem sugeriu o nome Le Donne para o vinho composto por três uvas: teroldego, petit verdot e merlot. Ele homenageia um movimento que ocorreu na Itália, na década de 1980, onde as mulheres começaram a reivindicar o seu espaço no mundo do vinho. Outro dos rótulos que Bruna tem orgulho é o trebbiano com passagem por barrica.
_ Não é uma variedade tão comum aqui para a gente, é da safra 2021 e tem uma leve passagem por barrica, o que já mostra evolução com bastante fruta adocicada _ descreve.
O Trebbiano também está no espumante branco brut que o casal Cristiano Mariante Horn e Carolina Horn provavam na última semana quando conheceram a Monte Chiaro.
_ É uma vinícola moderna, com conceito muito bacana _ destacou a porto-alegrense.
Um dos atrativos da vinícola é que ela fica aberta em horário estendido, até as 19h30min.
Pinturas com vinho
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Com o propósito de aliar vinho e arte, cada rótulo da Monte Chiaro é uma obra assinada pelo artista Antonio Giacomin, de Caxias. Referência na técnica de aquarela, ele aceitou o desafio da Monte Chiaro de pintar usando o vinho em vez da tinta. As obras que deram origem aos rótulos estão expostas na loja para que os visitantes possam também acompanhar a evolução, uma vez que se trata de um pigmento natural e sem conservantes, o que propicia a modificação dos tons com o passar dos anos, por meio do processo de oxidação, exatamente como ocorre com o vinho. Ainda neste ano, a ideia é proporcionar que o visitante possa fazer sua própria pintura com vinho.