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O evento mais aguardado do ano de degustação no país ocorreu no último fim de semana aqui na Serra. A Avaliação Nacional de Vinhos, que neste ano comemora 30 edições, foi a maior de sua história. Se, antes da pandemia, as proporções de uma degustação às cegas de quase mil pessoas em Bento Gonçalves chamavam a atenção no mundo, depois dela ainda mais. Foram criados os kits para o público acompanhar de casa. Com isso, mais de 600 pessoas participaram do evento na Fundaparque e outras 900 acompanharam por meio do canal da Associação Brasileira de Enologia (ABE) no Youtube.
Todos, independentemente de onde estavam, degustaram ao mesmo tempo as 16 amostras selecionadas entre as 30% mais representativas da safra 2022. Entre os resultados, a nova categoria que permitiu que vinhos elaborados com uvas de regiões tropicais ou obtidas pelo sistema de dupla poda chamou a atenção. Para comentar os resultados da safra 2022, conversamos com o presidente da ABE, enólogo André Gasperin, da Vinícola Don Affonso, de Caxias. Confira:
Havia muita expectativa com relação à estreia da colheita de inverno na Avaliação Nacional. Como foi a participação?
A iniciativa de ter vinhos de dupla poda, de eles poderem estar junto com o grande volume de amostras que a gente teve, e a representatividade desses vinhos entre os 30% selecionados, demonstra o potencial do Brasil vitivinícola, que não é mais só a região Sul. É um país continental, que tem vinhos de qualidade de Norte a Sul, essa qualidade também é vista no mercado, que tem aceito muito bem os vinhos dessas regiões novas.
Temos uma cepa que se destacou nesta avaliação?
Tem algumas coisas interessantes, como a volta, por exemplo, do Cabernet Sauvignon entre as 16 amostras, pois fazia algum tempo que a gente não via. Tiveram algumas castas novas e que estão realmente configurando a nova vitivinicultura brasileira, que é de diversidade, de qualidade. Castas com nomes diferentes também são uma constante ao longo desses 30 anos de Avaliação Nacional. Um exemplo desta edição é a do vinho tinto jovem, com uma casta portuguesa. Mas destaque também para outras tradicionais, com Tannat, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc. Os vinhos bases de espumante têm apresentado uma qualidade bastante interessante, e os rosés.
Além de espumantes, há variedades de vinhos tintos que estão identificando o Brasil e que a avaliação Nacional reforçou a projeção? A avaliação sempre vem ditando tendências do setor e do mercado do vinho brasileiro. Temos uma diversidade de climas e solos muito grande. Então a bandeira que eu sempre defendi é não ter uma casta representativa. Eu acho até que os melhores vinhos brasileiros que eu tenho degustado, tanto em se tratando de espumantes quanto em vinhos tintos, são as assemblagens (elaborados com mais de uma variedade de uva). Isso reflete um pouco da diversidade do brasileiro.
A Syrah está bastante em evidências nestas novas regiões vitivinícolas do país?
Sem dúvida, principalmente nesses vinhos de dupla poda, mas também em regiões tradicionais. É uma casta que origina vinhos com estrutura, com corpo, com volume, que se adapta muito bem a climas mais quentes. E resultam em vinhos tintos mais estruturados. É a grande aposta dos vinhos dessas regiões mais novas. Mas têm surgido outras apresentando resultados bastante interessantes, sejam elas brancas ou tintas.
Neste sentido, a Serra poderia aproveitar mais o seu potencial para vinhos brancos tranquilos?
Dentro da Serra, a gente tem pequenos microclimas, onde já se identificaram aptidões para alguns estilos de vinhos e alguns produtos em específico. Os vinhos brancos tranquilos e os bases de espumantes, sem dúvida, principalmente nas regiões mais altas com climas mais amenos, se destacam. É onde o processo de maturação da uva possibilita que tenhamos vinhos com teor alcoólico, com frescor e acidez. Já temos um volume interessante, se pegarmos, por exemplo, a uva Chardonnay. O Prosecco na região é fantástico. Também estão surgindo alguns vinhos brancos de variedades novas que têm chamado a atenção, como Alvarinho, Pinot Grigio... Vinhos com perfil muito aromático, com frescor, acidez e diversidade. Tem que ser alegre, tem que ser versátil, o que não impossibilita também de ter potencial para ser vinho de guarda.
A safra de 2022 é mais uma para entrar na história?
Ela começou com um período bastante seco. Isso, de certa forma, adiantou também o processo de colheita e apresentou vinhos bases de espumante com bastante estrutura. Depois, nas variedades intermediárias e tardias, o regime de chuvas voltou e os vinhos apresentaram algumas condições normais. Então aí já temos a opção dos tintos que entraram com uma estrutura bastante interessante.
As 16 amostras degustadas no evento
Vinho fino tinto seco – Cabernet Sauvignon, da Casa Valduga
Vinho fino tinto seco – Cabernet Sauvignon, da Almaúnica
Vinho fino tinto seco – Merlot, da Aurora
Vinho fino tinto seco – Teroldego, da Larentis
Vinho fino tinto seco – Merlot, da Don Guerino
Vinho fino tinto seco – Tannat, da Mioranza
Vinho fino tinto seco – Tannat, da Jolimont
Vinho fino rosé seco – Tannat, da Casa Venturini
Vinho fino tinto seco jovem – Tinta Roriz, da Família Lemos de Almeida
Vinho fino branco seco não aromático – Pinot Gris, da Cooperativa São João
Vinho fino branco seco não aromático – Chardonnay, da Casa Perini
Vinho fino branco seco aromático – Moscato Giallo, da Vinícola Gaio
Vinho fino branco seco aromático – Sauvignon Blanc, da Vivalti
Vinho base para espumante – Chardonnay, da Empresa Brasileira de Vinificações (EBV)
Vinho base para espumante – Chardonnay, da Ponto Nero
Vinho base para espumante – Pinot Noir e Chardonnay da Salton