Jaime Lorandi, presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), precisou tomar uma decisão há seis anos: transferir sua empresa, a Plásticos Itália, de Caxias para Farroupilha, depois de uma história de 20 anos na terra da Festa da Uva.
Os motivos: alto custo dos terrenos e uma "legislação inibidora do empreendedorismo".
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Na terra do kiwi, ampliou o número de funcionários e triplicou a produção.
– O empreendedor de Caxias sempre cresceu isolado do governo municipal, sozinho, solitário – critica.
Essa postura tem feito muitas empresas trocarem Caxias por cidades vizinhas ou outros Estados.
Nessa entrevista à colunista, o empresário detalha sua despedida de Caxias e fala sobre as perspectivas para o setor do plástico diante da crise:
Caixa-Forte: Caxias está preparada para atrair e reter empresas?
Jaime Lorandi: Caxias tem uma legislação inibidora do empreendedorismo. Nunca houve um planejamento de desenvolvimento econômico. O empreendedorismo municipal sempre cresceu isolado do governo municipal, sozinho, solitário. O município deu saúde, educação e infraestrutura para o povo, mas nunca investiu no desenvolvimento econômico. Ou seja, os governos municipais nunca fizeram um aproveitamento da maior força econômica que o município tem, que são os trabalhadores da indústria. Inclusive, as autoridades públicas caxienses sempre foram reativas ao desenvolvimento das indústrias porque a riqueza atrai a pobreza. A riqueza desenvolve a indústria e a pobreza traz mais responsabilidades sociais, com transporte, moradia, saúde.
Detalhe a decisão de sua empresa sair de Caxias?
Em 2006, minha empresa estava num pavilhão alugado. Já estava totalmente tomado e eu precisava comprar um terreno em que eu pudesse pagar e pudesse colocar uma indústria, Eu vi 19 áreas, sendo nove em Caxias, quatro em Flores da Cunha e seis em Farroupilha. Das nove áreas de Caxias, duas eu podia colocar a indústria, porém, não podia comprar, eram muito caras. As outras eu tive impedimentos ambientais e legais municipais. A lei do município não permitia. Em Farroupilha, encontrei uma área que pude comprar e colocar uma indústria, com um detalhe: uma área rural dentro da Bacia de Captação da Corsan. A Fepam aprovou, o município enquadrou. Quando voltei à prefeitura de Farroupilha, após o ok, o prefeito me recebeu e disse: "vamos ajudar com R$ 50 mil em terraplanagem".
Claro, com o retorno do ICMS ao município, eu compensaria essa ajuda. Com isso, a empresa, que tinha na época 60 funcionários, pulou para 104 hoje, e a produção de embalagens plásticas flexíveis triplicou. Eu não pedia nada, nem incentivo, e era estrada de chão. Em Caxias, se a estrada não estivesse pavimentada, eu deveria fazer a pavimentação. Isso inibe o empreendedorismo. Caxias tem excelente mão de obra, que é o que atrai. Na época, o poder público fez um esforço para eu não sair de Caxias, mas só mudando a lei para poder se colocar uma indústria na zona rural.
Qual é o cenário da cadeia do plástico na Serra?
Temos 510 empresas filiadas na Região Nordeste. Tivemos uma queda de 8,7% na receita em 2015, e prevemos 3,8% de queda agora em 2016, acompanhando o PIB. Torcemos que não seja mais do que isso. Já o número de funcionários caiu menos: 3,5% no ano passado, chegando a 450 vagas fechadas. Temos hoje 12,6 mil trabalhadores nesse conjunto de empresas.
Por que o impacto no setor foi menor?
O ramo do plástico é muito pulverizado. Temos empresas que atendem o setor automotivo, que caíram 25%, até outras que caíram menos, como as voltadas a alimentos e bebidas, com recuo de 5,4%.Quem está indo melhor?O ramo de utilidades domésticas, que investe muito em inovação e foi beneficiado pelo dólar alto, que encareceu a importação.Há como reverter o cenário?Acredito que em 2017 teremos um PIB zero, mantendo apenas o que conquistamos, conforme projeções baseadas na Fiergs e na Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast).
Quais são as estratégias?
Estamos incentivando o desenvolvimento da exportação, e trazendo um curso de internacionalização de empresas da Fiergs para cá. No nosso sindicato, apenas 50 empresas têm mais de 50 funcionários. O restante são micro e pequenas, que sabem fazer a produtividade, mas não têm tanta habilidade em gestão. Também criamos, em parceria com a Ftec, um curso de capacitação de gestão empresarial, com a grade curricular a partir do que o empresário precisa.
As empresas estão sobrevivendo?
Quando uma empresa começa a ir mal, e está há mais de 10 anos no mercado, até o empreendedor parar leva mais 10 anos. Ele vai postergando, deixando de pagar impostos, bancos, fornecedores e, por último, atrasa os funcionários. O sistema permite que se vá arrolando. Só se ouve o lado psicológico, que é o choro.
E qual o impacto do processo de impeachment contra a presidente Dilma?
Nós temos hoje uma crise de ética, que ocasionou uma crise política, que ocasionou uma crise econômica. A base de tudo é a falta de valores, honestidade, falta de decoro com a coisa pública. Com isso, estourou a bolha, com crise de empresas, vendas e impostos. Nós apoiamos a celeridade do processo de impeachment, em função das irregularidades fiscais com o dinheiro público. O desânimo do empresário, que atinge 80%, vai diminuir.
Caixa-Forte
"Nunca houve planejamento de desenvolvimento econômico em Caxias", diz presidente do Simplás
Jaime Lorandi transferiu sua empresa para Farroupilha há seis anos devido ao alto custo dos terrenos e legislação inibidora
Silvana Toazza
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