Sempre fui apaixonada por geografia, mapas, relevos, climas e espaço. Durante muito tempo levei esse meu amor para literatura e então nomeei como sendo uma espécie de geografia do afeto as descrições sobre Porto Alegre feitas por Moacyr Scliar, Paul Auster sobre Nova York, Ítalo Calvino sobre suas cidades invisíveis, Paulo Barreto, vulgo João do Rio sobre o Rio de Janeiro, ETA Hoffmann sobre Berlim, Steinbeck sobre a Califórnia e assim poderia citar Isabel Allende, Gabriel Garcia Marques, Mario Benedetti e tantos outros que, de uma forma ou de outra, transformaram o espaço num lugar performático, habitado pelos personagens, suas histórias, dores e descobertas. Aos poucos descobri que para além da geografia física e real há outra, extrafísica, metafórica, análoga e humana. Sempre acreditei que para se conhecer um lugar é preciso andar a pé por ele, percorrer as ruas, sentir os cheiros, de que lado bate o vento, por onde entra o sol, que tipo de vegetação se cria ali, quem são os vizinhos, de que tipo são, quem é o dono da mercearia, para que lado fica a igreja, quantas e quais ruas são necessárias para chegar a tua casa. Quando aprendi a dirigir achava muito diferente andar pelo meio da rua, pois quando se esta dentro do carro a percepção do espaço é outra. Não se pode reconhecer as plantas que estão desabrochando, nem de onde veio o latido do cachorro. O foco é outro.
Opinião
Adriana Antunes: geografia do afeto
Sempre acreditei que para conhecer um lugar é preciso andar a pé por ele
Adriana Antunes
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