Gosto no Natal, das luzes, do encontro, do salpicão. É sempre uma função, mas é uma função boa. Lembro dos natais da infância, muito simples, pois venho de uma família humilde, meu pai ex-metalúrgico, minha mãe ex-faxineira, ambos ex-agricultores. Nunca comi peru naquela época. Nem sabia que era tradição comer a ave. Era sorte quando tinha uma carne diferente, mas isso nunca fez falta. Espumante era outra iguaria que só fui conhecer muito mais tarde. A única coisa que realmente lamento é a falta de fotografias. Ter máquina fotográfica foi algo que meu pai nunca nem planejou, a vida exigia coisas bem mais básicas. As imagens que tenho são as que guardo na memória, e algumas que se construíram por conta do relato dos parentes. Era um período, apesar de mais escasso materialmente, pleno de amor e afetividade. A melhor parte era encontrar com os primos. A gente disputava para ver quem conseguia pegar mais vagalumes. Fazíamos aposta na corrida de sapos. Inventávamos histórias de terror e o que tivesse a melhor história poderia comer um pedaço de bolo a mais. Depois, lá pelas tantas aparecia um Papai Noel, que com o tempo fui desconfiando de que era uma invenção. Até o dia em que descobri que era um revezamento de tios. Às vezes era tio Setembrino, irmão do pai, às vezes o tio Zé, irmão da mãe. Pessoas que carrego no coração até hoje e agradeço por terem alimentado meu imaginário. Os presentes também eram algo à parte. Lembro de ter ganho boneca uma única vez, de plástico, cujo olhos logo desapareceram porque eram feitos de uma tinta de pouca qualidade. Foi na boneca que comecei a desenhar. Primeiro refiz os olhos, depois a boca e assim desenho bonecas até hoje. Havia dois presentes que eram os meus favoritos: bolacha feita em casa e canetas hidrográficas.
Opinião
Adriana Antunes: O Natal
O Natal é a saudade do cheiro da nona, da visão dos vagalumes que desapareceram, da criança simples e feliz que éramos
Adriana Antunes
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