Enquanto escrevo, chove. Talvez a alguns anos atrás eu nem percebesse a chuva. A vida, o trabalho, as necessidades mais urgentes não me deixavam sobrar tempo para olhar para fora. A busca era outra. Buscamos tantas coisas neste mundo, não é? Depois, vamos nos dando conta que mesmo conquistando o que desejamos, o vazio ainda existe. Aí, nos damos conta de a busca era realmente outra. Chega uma hora na vida em que queremos nos tornar a pessoa que nascemos para ser. Desde o primeiro momento que abrimos os olhos, buscamos por respostas, mas só com a maturidade procuramos o que importa de verdade. Viver é confuso. Demora para descobrirmos que a nossa natureza é um recurso e não um refúgio, que a angústia diminui na medida em que vamos nos aceitando. Isso parece autoajuda, mas não é, isso é poesia. Isso é Manoel de Barros, poeta matogrossense, que morreu em 2014. Está lá em seu livro Concerto a céu aberto para solos de aves, que um dia, para que se possa despertar, é preciso ser amanhecido por uma ave. E para ouvir o som de um pássaro, é preciso desacelerar.
Opinião
Adriana Antunes: filosofia do caramujo
Chega uma hora na vida em que queremos nos tornar a pessoa que nascemos para ser
Adriana Antunes
Enviar email