
A espera de 16 famílias, proprietárias dos apartamentos do Edifício Gralha, no bairro Edmundo Trein, em Passo Fundo, já dura nove anos. Uma nova audiência de conciliação extrajudicial com o governo gaúcho é a esperança de quem teve que abandonar o local por risco de desabamento. A data do acordo ainda não foi definida.
O prédio construído e financiado pelo sistema Cohab/RS há cerca de 40 anos, foi repassado ao Estado após extinção da companhia, em 2009.
Em 2016, o imóvel foi interditado pelo Corpo de Bombeiros por problemas estruturais e, desde então, o caso tramita na Justiça.
Uma decisão de 2022 determinou a indenização dos moradores, além da obrigação do Estado de demolir o prédio. Desde então, os moradores deixaram seus apartamentos e foram morar em outro local. O processo, entretanto, aguarda definições em instâncias superiores.
Enquanto isso, os proprietários tentam um acordo extrajudicial, como explica o advogado Daniel Mendonça que representa 15 dos 16 proprietários na Justiça.
— Houveram algumas reuniões com o procurador-geral do Estado e está em andamento uma tratativa de acordo. O objetivo desse acordo é para que haja o pagamento imediato da indenização, sem precatório. Não há valor determinado ainda para resolução, por isso as tratativas — explica Mendonça.
A primeira na tentativa de alcançar um acordo com o governo gaúcho depois da decisão da 2º Vara de Passo Fundo foi em 27 de março de 2024. A tratativa mais recente aconteceu no mês passado, em 13 de março. Agora, os moradores esperam nova audiência ainda para o mês de abril.
"É uma vida minha que está aí"
Aos 68 anos, a aposentada Rosemari Rosa dos Santos é uma das moradoras que teve a vida transformada depois que precisou deixar seu apartamento no Edifício Gralha.
O imóvel foi adquirido há mais de 20 anos de uma sobrinha dela. Morou no apartamento por uma década, mas precisou encontrar outro local para viver após a interdição.
— Eu não estava em Passo Fundo quando os bombeiros interditaram. Eu estava viajando. Quando retornei, que fui entrar no portão, vi que estava interditado. Na hora eu não acreditei — relembra.
A aposentada foi uma das últimas a deixar o edifício. Os outros moradores foram saindo aos poucos, conforme iam encontrando outros lugares para ficar.
Com o apartamento quitado, atualmente Rosemari mora de aluguel com o marido, que trabalha em dois empregos para poder pagar a despesa.

José da Rosa Eli, cunhado de Rosemari, também morava no Edifício Gralha. Depois que saiu do prédio, José enfrentou um caso grave de depressão, recebeu diagnóstico de Alzheimer e hoje vive aos cuidados de familiares.
— O que eu mais quero é que a gente receba o que é de direito nosso. Meu cunhado está morrendo aos poucos. Eu não tenho mais lágrimas para chorar. Eu não choro a minha dor, mas a de todos os moradores — relata Rosemari.
Ela relembra o cuidado que os moradores tinham com o imóvel e com o terreno.
— Era tudo arrumado, pintado. Esse aqui foi um prédio exemplo. Era tudo limpinho. Eles simplesmente nos tiraram. É uma vida minha que está aí — disse.