As ruas de Passo Fundo, no norte gaúcho, receberam a romaria de São Miguel neste domingo (29).
Com terços e panfletos de cantos e orações na mão, os fiéis percorreram os seis quilômetros entre a igreja Matriz São Vicente, na Avenida Brasil, no bairro Boqueirão, até a capela em homenagem ao santo, no bairro Integração.
A caminhada iniciou por volta das 8h30min e passou pela RS-153 até chegar na Capela São Miguel. Conforme a organização do evento, cerca de 8 mil pessoas participaram da procissão.
A romaria está na 153ª edição e é considerada a mais antiga do Rio Grande do Sul, segundo o padre Claudir Pressi. Ela também já foi classificada como patrimônio histórico imaterial de Passo Fundo.
A devoção a São Miguel Arcanjo tem origem na década de 1870, após a guerra do Paraguai. Ao voltarem para Passo Fundo no final da disputa, os homens escravizados Generoso e seu filho Isaías encontraram a imagem do santo na região das Missões.
Por conta de um ferimento grave, Isaías teve que amputar uma das pernas. A Capela São Miguel foi construída através da promessa do homem que garantiu que se chegasse com vida em Passo Fundo construiria o santuário.
— Hoje os descentes da família de Isaías e Generoso vão ajudar a carregar a imagem. Ainda temos a presença deles aqui, como a professora Maria de Lourdes Campos Isaías e Odorico Ribeiro, que são descendentes diretos. Há uma busca muito grande por proteção e como São Miguel Arcanjo é o protetor que fez a batalha no céu para destruir o mal estamos recebendo muitos devotos — afirma o padre.
Ainda segundo Pressi, os últimos fenômenos climáticos do Estado mostram que as pessoas também precisam ser guardiãs e criar harmonia com a natureza, seguindo o exemplo de São Miguel Arcanjo.
A programação segue durante a tarde com bênção do público e objetos religiosos, das 14h às 17h na Capela São Miguel, no bairro Integração.
Fé, devoção e promessa alcançada
Com a imagem do santo em mãos, Maria Terezinha de Boni, 71 anos, já participa da romaria há mais de 30 anos. Faça chuva ou faça sol, todos os anos ela realiza a caminhada e faz questão de ensinar os alunos da Escola Estadual de Educação Básica Nicolau de Araújo Vergueiro (EENAV), a qual trabalha, a pedir proteção para o arcanjo.
— Teve um ano que eu achei que a procissão já tinha passado e fui sozinha até lá. Eu trabalho lá na escola na parte da limpeza e também ajudo a cuidar das crianças. Eu ensino para eles a oração do anjo da guarda, porque todos nós precisamos da proteção dele — afirma.
Com flores e o terço na mão, Ilda Padilha, 53 anos, caminhava pela Avenida Brasil acompanhada do filho, Adilson Padilha. A cada passo ela seguia concentrada em suas orações. Neste domingo (29), a caminhada foi em honra à promessa alcançada pela vida do filho.
Devota de São Miguel há anos, ela afirma que costuma rezar pela família e que há um ano quando o filho sofreu um acidente de moto foi ao santo que chamou por ajuda.
— Depois do acidente ele sentia muita dor de cabeça. Eu levei ele para o médico de novo e disse que isso não era normal. Descobrimos que ele estava com um coágulo na cabeça. O médico me parabenizou e disse que se eu não tivesse tomado uma atitude meu filho ia começar a convulsionar. Tratamos ele e rezamos muito, hoje ele está bem — conta Ilda.